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12 setembro 2017

Portugal

Ser Português é Difícil

Os Portugueses têm algum medo de ser portugueses. Olhamos em nosso redor, para o nosso país e para os outros e, como aquilo que vemos pode doer, temos medo, ou vergonha, ou «culpa de sermos portugueses». Não queremos ser primos desta pobreza, madrinhas desta miséria, filhos desta fome, amigos desta amargura. Os Portugueses têm o defeito de querer pertencer ao maior e ao melhor país do mundo. Se lhes perguntarmos “Qual é actualmente o melhor e o maior país do mundo?”, não arranjam resposta. Nem dizem que é a União Soviética nem os Estados Unidos nem o Japão nem a França nem o Reino Unido nem a Alemanha. Dizem só, pesarosos como os kilogramas nos tempos em que tinham kapa: «Podia ter sido Portugal...» E isto que vai salvando os Portugueses: têm vergonha, culpa, nojo, medo de serem portugueses mas «também não vão ao ponto de quererem ser outra coisa».

Revela-se aqui o que nós temos de mais insuportável e de comovente: só nos custa sermos portugueses por não sermos os melhores do mundo. E, se formos pensar, verificamos que o verdadeiro patriotismo não é aquele de quem diz “Portugal é o melhor país do mundo” (esse é simplesmente parvo ou parvamente simples), mas, sim, de quem acredita, inocentemente, que Portugal «podia ser» (ou ter sido) o melhor país do mundo e (eis a parte fundamental, que separa os insectos dos cicofantas) «tem pena que não seja», uma pena daquelas que ardem para toda a vida nos peitos profundos das pessoas boas.

Ser português não é nem a sorte com que sonhamos (não queriam mais nada — nascer logo uma coisa boa!) nem o azar com que vamos azedando. Ser português é um «jeito que se aprende». Não é coisa que vá à bruta ou à má fila. Não é bem que vá a bem (precisa de ser ajudado), mas também não é mal que vá à bruxa. Ser português não é tanto ser feito à imagem de Deus, como os outros povos (todos eles felizes), como estar, à partida, «feito». Cada vez que nasce um ser humano e olha para o bilhete de identidade e verifica que calharam os pedregulhos e os pêsames da portugalidade, diz logo “Pronto — estou feito — sou português”. Devia ter juízo. A única coisa que o absolve é ter, também, razão.

Ser português é «difícil». O resto do mundo não compreende que os Portugueses são especiais, diferentes, bastante giros, bem-educados, antigos, espertos, casos sérios. O resto do mundo acredita sinceramente que o mundo seria exactamente o mesmo sem os Portugueses. Para a grande maioria da população da Terra, a própria «existência» de Portugal é uma surpresa. E não se julgue automaticamente que se trata de uma grande surpresa ou, sequer, de uma surpresa «boa». É mais uma surpresa do género “Ah, sim?”. Como quem aprende que o «baseball» teve origem nos «rounders ingleses». Ah, sim? Que giro! Agora sai da frente do televisor que eu quero ver se este Babe Ruth era tão bom como diziam. Para o resto do mundo, os feitos dos Portugueses não pertencem à história fundamental do Universo. Pertencem, quando muito, à secção dos passatempos, do “Não me digas!” e do “Acredite se quiser”. Ser português é um ser delicado. Ser português não é «ser humano». É ser que tem muito para fazer só para ser «vivo».

Os políticos dizem que é preciso andar para a frente, modernizar, desenvolver, «mudar» Portugal, presumivelmente para melhor, porque este (nisto estão todos de acordo) não presta. Os poetas sonham com países que nunca existiram ou existirão, ou que já existiram e jamais existirão outra vez. Ninguém está contente com o que é, ou com onde está, ou com o que tem. Os Portugueses, o povo, a nação, os ditos, os implicados, envolvidos e lixados, esses nem ideia têm ou fazem — para eles a própria noção de Portugal foi um raio de ideia para começar. Mas o que é preciso não é nem tão drástico nem tão espectacular. O que é preciso é «continuar» Portugal.

Continuar Portugal não é uma acção delicada, ou uma campanha urgente, ou uma tarefa que exija o sacrifício de todos os cidadãos. É simplesmente continuar a perguntar, a barafustar, a amaldiçoar o dia em que se nasceu desta cor, nesta pele, com este coração mole e fácil de apertar e espremer. Continuar Portugal é acreditar que a vida seria pior sem ele, pior se a Europa começasse pela Espanha, pior se fôssemos suíços ou belgas ou finlandeses. Continuar Portugal é ser português e dizer “Pronto, que se lixe, o que é que eu hei-de fazer?”. E acreditar na diferença que faz a nossa maneira de ser, e de sermos portugueses, como um cardiologista acredita que o coração foi feito para continuar a bater.
E foi. E, o que é mais engraçado, continua!
 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

12 comentários:

Anónimo disse...

12ºA
Os portugueses ao olhar, em sua volta inevitavelmente sentem vergonha, querem não estar associados a um país como esse; querem pertencer ao melhor país do mundo, mas não fazem nada para mudar, limitam-se a ficar agarrados ao passado.
Se verificarmos, o verdadeiro patriota não é aquele que afirma que Portugal é o melhor país do mundo, mas sim aquele que reconhece que este podia ter ido mais além.
Mas ser português não é nenhuma maldição, muito menos um motivo de lamurias, pode não ser nenhum mar de rosas, português não nasce com a vida feita, mas podia ter muito menos sorte.
O mundo não entende a essência do português, pensa que somos apenas um rodapé nos livros de história, aliás para a maior parte das pessoas a nossa existência é até uma surpresa, não uma surpresa boa, apenas…uma surpresa.
Os políticos não são diferentes acham que a coisa está má, mas não fazem nada para o mudar, já os poetas limitam-se a sonhar com uma utopia, ninguém está contente, mas o que é preciso é “continuar” Portugal.
Continuar Portugal não é algo que exija o sacrifício de todos os cidadãos, mas sim perguntar-se repetidamente do porquê de nascer assim, é acreditar que a vida seria pior se Portugal não existisse, é acreditar que os portugueses fazem a diferença.

Gonçalo Lucas Nº11
Guilherme Santos Nº12
Mariana Canhoto Nº20
Miguel Lopes Nº21

Anónimo disse...

A crónica de Miguel Esteves Cardoso, Ser português é difícil, reflete acerca da Portugalidade.
Os portugueses têm algum medo e vergonha de serem portugueses, mas também não querem ter outra nacionalidade, embora tenham o defeito de quererem pertencer ao maior e ao melhor país do mundo. Isto custa-lhes, e verificando vê-se que o verdadeiro patriotismo não é aquele que diz que Portugal é o melhor país do mundo, mas aquele que acredita que poderia ter sido e tem pena que não tenha acontecido. Para concretizar esse desejo de grandiosidade, Portugal precisa de evoluir, mas não muito drasticamente.
Ser português é uma constante busca da vivacidade do ser Humano, já que o resto do mundo não sabe quem os portugueses são e no que contribuíram para a História mundial, ficando surpresos ao descobrirem. Ser português é algo que se vai aprendendo, e para o qual se precisa de ajuda.
A luta pela continuidade de Portugal não depende do esforço de todos os cidadãos. Continuar Portugal é acreditar que sem ele a vida seria pior. Ser português é confiar no próprio ser e na diferença que trazem ao mundo sem nunca pararem de acreditar em Portugal.

Escrito por: Diogo Fernandes, nº7, 12ºA
Fátima Santos, nº8, 12ºA
Filipa Tavares, nº9, 12ºA
Filipe Ferreira, nº10, 12ºA

Noémia Santos disse...

Gonçalo Lucas e C&A

Obrigada pelo trabalho. Mas há mudanças a fazer, para ficar bem.
Assim, reparem:

Problema principal - falta de coesão/articulação entre os parágrafos.

Pontuação: «Os portugueses ao olhar, em sua volta inevitavelmente sentem vergonha,» - "olhar em sua volta" - ou sem vírgulas nenhumas ou com 2 vírgulas: "...olhar, em sua volta,..."

Alteram a ideia do texto-fonte em - « mas não fazem nada para mudar, limitam-se a ficar agarrados ao passado» - Onde está isto?
Não é esta a lógica do texto; não detetaram a ironia.

Como opinião estaria interessante, mas não corresponde ao texto-fonte nem respeita a regra da linguagem objetiva - «Mas ser português não é nenhuma maldição, muito menos um motivo de lamurias, pode não ser nenhum mar de rosas, português não nasce com a vida feita, mas podia ter muito menos sorte.» ????

Sem lógica - «Os políticos não são diferentes» - de quem????

Não respeita o texto « acham (...) mas não fazem nada para o mudar» - será a vossa opinião, mas não está lá...não é essa a lógica.

Sintaxe - «perguntar-se repetidamente do porquê» - a preposição está a mais.

Toca a melhorar. Se não conseguirem fazer juntos, melhorem no caderno ou aqui, individualmente.

Bom trabalho




Ortografia - as «lamurias»

Noémia Santos disse...

Fátima Santos & friends

O vosso texto corresponde no essencial ao pedido e mantém, globalmente, a matriz informativa do texto-fonte.
Todavia, podem melhorar o seguinte:

No texto não há a informação nem o nexo de causalidade da vossa frase:
«Ser português é uma constante busca da vivacidade do ser Humano, já que o resto do mundo... » - Onde está? Por quê "já que"?

Sintaxe/Coesão em número - singular/plural - «Ser português é confiar no próprio ser e na diferença que trazem».

Bom trabalho

Anónimo disse...

A crónica de Miguel Esteves Cardoso é, de certo modo, um reforço dos defeitos dos portugueses mas que, além disso, demonstra que este povo nada faz e não tem qualquer intenção de alterar o seu comportamento.
Como declara o autor, não ser o melhor do mundo, aos olhos de um português, custa bastante mas magoa mais ainda aquele que é o verdadeiro patriota, que acredita que com esforço e dedicação de todos Portugal se tornasse num país quase perfeito.
A ideia de que o mundo não seria igual sem o povo português está relacionada com o facto de Portugal ser uma nação tão especial e diferente mas não é esta definição que impede o resto dos povos de dar o merecido mérito a Portugal, como afirma Miguel Cardoso ao dizer que os feitos e conquistas portuguesas não são reconhecidas como parte da história do universo.
O povo português é descontente com tudo o que tem e não tem, querendo sempre mais e melhor mas tentando sempre alcançar os seus objetivos sem deixar de ser ele mesmo, nunca deixando de sonhar com o impossível.
O autor acredita que a nação portuguesa tem uma maneira de ser e estar singular e por isso deve acreditar sempre que fará a diferença.


12ºA
Jorge Santos-nº14, Leonardo Pereira-nº15, Márcio Leopoldo-nº16, Maria Nazaré-nº17

Bruno Bento - Consultor Imobiliário disse...

Segundo Miguel Esteves Cardoso, ser português é difícil mas é ser diferente é único.
Os portugueses, mesmo tendo vergonha, culpa ou medo da sua nacionalidade têm de assim permanecer, pois não querem mudar.
Nesta sequência Miguel Esteves Cardoso defende que é verdadeiramente patriota quem acredita que Portugal podia ser o melhor país do mundo e tem pena que não seja.
Afinal, ser português não é ser perfeito mas é ser português.
Porém, o mundo tem dos portugueses uma visão negativa, ou inexistente, apesar das suas qualidades e da sua história.
E, embora poetas e políticos sonhem com um Portugal melhor e mais modernizado o povo revela ignorância. No entanto o que é preciso é continuar Portugal!
Conclui Miguel Esteves Cardoso que continuar Portugal é acreditar que somos diferentes é que essa diferença faz de nós um povo único.

Afonso morgado n1
Alexandra Barreto n2
Beatriz Lucas n3
Bruno bento n4
12B

Anónimo disse...

Segundo a crónica “Ser Português é Difícil” de Miguel Esteves Cardoso os Portugueses têm algum medo de ser Portugueses. Os portugueses não querem ser portugueses, têm o defeito de querer pertencer ao maior e melhor país do mundo mas se lhes perguntarem qual é atualmente o melhor e maior país do mundo não sabem responder. Na sua opinião, os portugueses têm vergonha, culpa, nojo, medo de o serem mas também não querem ser outra coisa.
O autor considera que só custa ser português por não ser o melhor do mundo e que o verdadeiro patriotismo é aquele de quem acredita que Portugal podia ser ou foi o melhor país do mundo.
O autor diz que ser português é difícil porque o resto do mundo não compreende que os portugueses são especiais e diferentes. O cronista considera que o resto do mundo acredita que o mundo seria exactamente o mesmo sem os Portugueses. Para o resto do mundo, os feitos dos Portugueses não pertencem à história fundamental do Universo. Os outros países ficam espantados quando se conta um feito português, até lhes custa a acreditar.
O cronista afirma que continuar Portugal não é uma acção delicada ou tarefa que exija o sacrifício de todos. É simplesmente continuar a barafustar e a apontar defeitos de tudo e de todos. Continuar Portugal é acreditar que a vida seria pior sem ele, que seria pior se fossemos de outro país, e acreditar na diferença que faz a nossa maneira de ser, e de sermos portugueses.

João Cabaça

Noémia Santos disse...

Afonso morgado (e se fosse Morgado?) & Cia. Lda.

Obrigada pelo contributo. O vosso texto tem afirmações corretas e adequadas à síntese.
Todavia, há vários aspetos a melhorar. Assim:

1 - No 2º parág. «têm de assim permanecer» - no texto não é vsto como "obrigação".
2 - Não corresponde ao texto: « o mundo tem dos portugueses uma visão negativa»
3 - «apesar das suas qualidades e da sua história.» - Não é a vossa opinião que conta; MEC o que refere é que esta é a ideia que os portugueses fazem de si próprios...
4 - Altera completamente a lógica do texto - « o povo revela ignorância» Onde está???

Expressão escrita:
- Coesão/progressão - para quê tantos parágrafos e sem articulação? Ligar, por ex., o 2º com o 1º, o 4º com o 3º.
- 1ª linha - falta a vírgula em « é ser diferente, é único.»
- Retirar o «Nesta sequência» .

Se vos for difícil juntarem-se, cada um faz as melhorias no seu próprio caderno ou aqui.
Bom trabalho!

Noémia Santos disse...

Jorge Santos e companheiros de jornada

Obrigada pelo texto. Ficam aqui os reparos para ajudar a melhorar esta versão:

Toda a afirmação seguinte é falsa, pois não corresponde à lógica do texto
- «... é, de certo modo, um reforço dos defeitos dos portugueses mas que, além disso, demonstra que este povo nada faz e não tem qualquer intenção de alterar o seu comportamento.». O vosso tom e lógica são críticos, o de MEC é gracioso e irónico e não fala só dos defeitos nem é crítico da falta de mudança.

- O vosso 2º parágrafo também altera a lógica do texto -
«A ideia de que o mundo não seria igual sem o povo português está relacionada com o facto de Portugal ser uma nação tão especial e diferente mas não é esta definição que impede o resto dos povos de dar o merecido mérito a Portugal»
MEC não critica os outros povos nem acha injusta a indiferença...constata, apenas, que os portugueses são os únicos que acham excecional o seu contributo para o mundo.

Certo? Não é para dar a vossa opinião; têm é de ser fiéis ao texto-fonte, mesmo que dele discordem.

Bom trabalho!

Noémia Santos disse...

João Cabaça [que (só) desta vez] trabalhou sozinho

A tua síntese respeita as regras e a lógica do texto-fonte. Estava um pouco grande, mas com os cortes que fizeste agora está bem.
Vou publicar.

Noémia Santos disse...

João C.

Esqueci-me de pedir para mudares a 1ª pessoa do último parágrafo. Num texto teu estaria muito bem, mas na síntese usa-se a 3ª pessoa.

Anónimo disse...

Ser português é difícil- SÍNTESE:
Neste texto é referido o facto de os portugueses terem medo de o ser, pois não querem ser relacionados com a fome, a miséria, a pobreza e a amargura associadas ao nosso país. Assim, os portugueses sentem culpa, vergonha e nojo, mas não ao ponto de querem deixar de ser portugueses.
Nascer Português não é bom nem mau, aprende-se a sê-lo, porque o nosso povo é único, tão único que passamos despercebidos pelas outras nações. A única coisa que nos custa em sermos portugueses é sabermos que podiamos ser os melhores e não os somos. Contudo, o patriotismo português defende que o podiamos ser.
Os políticos falam-nos num Portugal onde tudo será melhor, mas apenas o idealizam; os poetas falam do Portugal passado e até num “Portugal imaginário”, mas estão a falhar o mais importante: continuar Portugal, esse sim é o objetivo, o qual devemos procurar realizar.

Trabalho realizado por:
Bruno Fonseca- nr5
Carolina Moço- nr6
Daniel Infante- nr7
Diana Cruz- nr8
10ºB