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28 abril 2016

Textos autobiográficos

 
 
 
 
 
 
A complementar as revisões, ficam exemplos, trabalhados no ano anterior, associados ao memorialismo, ao diário e a outros de natureza autobiográfica.
 
 



 
 
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  Recordações
 
  Somos a memória que temos, sem memória não saberíamos quem somos. Esta frase, brotada da minha cabeça há muitos anos, no fervor de uma das múltiplas conferências e entrevistas a que o meu trabalho de escritor me obrigou, além de me parecer, imediatamente, uma verdade primeira, daquelas que não admitem discussão, reveste-se de um equilíbrio formal, de uma harmonia entre os seus elementos que, pensava eu, contribuiria em muito para uma fácil memorização por parte de ouvintes e leitores. Até onde o meu orgulho vai, e apraz-me declarar que não chega muito longe, envaidecia-me ser o autor da frase, embora, por outro lado, a modéstia, que também não me falta de todo, me sussurrasse de vez em quando ao ouvido que tão certa era ela como afirmar com toda a seriedade que o sol nasce a oriente. Isto é, uma obviedade.
   Ora, até as coisas aparentemente mais óbvias, como parecia ser esta, podem ser questionadas em qualquer momento. É esse o caso da nossa memória, que, a julgar por informações recentíssimas, está pura e simplesmente em risco de desaparecer, integrando-se, por assim dizer, no grupo das espécies em vias de extinção. Segundo essas informações, publicadas em revistas científicas tão respeitáveis como a Nature e a Learn Mem, foi descoberta uma molécula, denominada ZIP (pelo nome não perca), capaz de apagar todas as memórias, boas ou más, felizes ou nefastas, deixando o cérebro livre da carga recordatória que vai acumulando ao longo da vida. A criança que acaba de nascer não tem memória e assim iríamos ficar nós também. Como dizia o outro, a ciência avança que é uma barbaridade, mas eu, a esta ciência não a quero. Habituei-me a ser o que a memória fez de mim e não estou de todo descontente com o resultado, ainda que os meus atos nem sempre tenham sido os mais merecedores. Sou um bicho da terra como qualquer ser humano, com qualidades e defeitos, com erros e acertos, deixem-me ficar assim. Com a minha memória, essa que eu sou. Não quero esquecer nada.
José Saramago





 
Terça-feira, 11 de Abril de 1944
Querida Kitty:
 (…) Há de chegar o dia em que esta guerra medonha acabará, há de chegar o dia em que também nós voltaremos a ser gente como os outros e não apenas judeus.
Naquela noite pensei que ia morrer. Esperava pela Polícia, estava preparada como os soldados no campo de batalha, prestes a sacrificar-me pela pátria. Agora que estou salva, o meu desejo é naturalizar-me holandesa depois da guerra.
Sinto-me cada vez mais independente dos meus pais. Embora seja muito nova ainda, sei, no entanto, que tenho mais coragem de viver e um sentido de justiça mais apurado, mais seguro do que a mãe. Sei o que quero, tenho uma finalidade, uma opinião, tenho fé e amor. Deixem-me ser eu mesma e estarei satisfeita. Tenho consciência de ser mulher, uma mulher com força interior e com muita coragem.
Se Deus me deixar viver, hei de ir mais longe de que a mãe. Não quero ficar insignificante. Quero conquistar o meu lugar no Mundo e trabalhar para a Humanidade.
O que sei é que a coragem e a alegria são os fatores mais importantes na vida!
            Tua Anne
Diário de Anne Frank (excerto)

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