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14 janeiro 2016

Pessoa, o fingi-dor

 Para perceberem que desde que haja leituras, pensamento e vontade se escrevem textos com interesse e proveito, ficam alguns testemunhos que retomei.

«Em Fernando Pessoa ortónimo existe uma personalidade poética ativa, que conserva o nome do seu criador. Na sua arte exprime intelectualmente as suas emoções, confessando-se um “fingidor”.

Pessoa ortónimo centra-se em três criaturas simples: a ceifeira, o gato e a criança. O poeta ao pensar nestas criaturas alegra-se e entristece-se simultaneamente. No poema dedicado à ceifeira, esta canta pensando que é feliz, o poeta quer ser como ela, inconsciente, não ter de pensar nas coisas e, contudo, ter a consciência de toda a inconsciência, como se pode ler nos versos “Ter a tua alegre inconsciência / E a consciência disso!”.
 

Já no poema “Gato que brincas na rua”, Fernando Pessoa deixa evidente a temática da fragmentação do “Eu”, referida nos versos “Eu vejo-me e estou sem mim / Conheço-me e não sou eu”. O sujeito poético compara-se com o gato até mesmo no que diz respeito a este tema e pode-se confirmar que, ao contrário do “Eu”, o gato não se fragmenta através dos seguintes versos: “És feliz porque és assim / Todo o nada que és é teu”. 

O tema da criança está presente em diversos poemas da obra do ortónimo, “O Menino de sua Mãe”, “Quando as crianças brincam” e “Pobre velha música”, põe exemplo. Em todos estes poemas, o sujeito vai “sentir” uma nostalgia em relação à infância, ficando com pena de não a ter vivido com a intensidade que desejava, conforme se pode constatar nos versos: “Quando era criança”, “Quando as crianças brincam”, “E toda aquela infância / Que não tive me vem” e “Nessa minha infância / Que me lembra de ti”. Este tema para Fernando Pessoa e seus heterónimos merece um ponto de destaque. Sendo a criança uma criatura livre, despreocupada, a infância também o vai ser, sendo esta chamada a idade d’ouro.»


Texto de Ricardo Pinto (ex-12º C)




«Na poesia do ortónimo de Fernando Pessoa, a presença de uma constante auto-análise e reflexão fria e racional perante o presente e o passado, o uso abundante de paradoxos que passam uma ideia de desespero e de futilidade de viver e agir são símbolo de um estado de nostalgia e solidão do poeta.
A grande preocupação com a musicalidade, a harmonia e o ritmo, bem como muitas referências à canção de embalar mostram o lado mais feliz da vida, associado à liberdade “perder países”, à infância “gato que brinca na rua” e à Natureza “Ó céu!/ Ó campo! Ó canção!” que surgem com a necessidade de leveza e levitação.
 

Pessoa afirma que o Homem é do tamanho do seu sonho. Para o sujeito poético o que resta ao ser humano é a capacidade de sonhar. Dono de uma imaginação delirante e febril ligada à ideia de criação. “Não. / Eu simplesmente sinto/Com imaginação/ Não uso o coração.” Este hábito único de sonhar faz com que Pessoa possa ver o seu interior de forma nítida, permitindo abrir a janela para dentro, este conhece-se a si mesmo e com isso conhece toda a humanidade.
A necessidade de compreender as coisas através da razão, torna Fernando Pessoa um ser humano irrequieto, como ele própria diz: “Quem tem alma/ Não tem calma.” Criando assim várias temáticas abordadas sobre uma base dicotómica como por exemplo: consciência/ inconsciência; sentir/ pensar; sonho/ realidade.
Nesta poesia predomina o uso de paradoxos aparentemente ridículos tal como no poema “cartas de amor ridículas” mas que no fundo nos encaminham para o lado mais complexo, mais lúcido e mais racional de nós mesmos.
“Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém usa, afinal ninguém fala em verso.” »

Texto de Pedro Miranda (ex-nº20 12ºC )


Há mais textos de colegas de outros anos, 
nos comentários de 4 de janeiro.

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