Total visualizações

23 novembro 2015

Eça de Queirós (revisões)

CRITICAR OU INTERVIR NA SOCIEDADE?

Reflexão sobre o final do livro A Cidade e as Serras

quase no final, Jacinto faz uma visita à família do seu melhor amigo, Zé Fernandes, em que  conhece uma das primas deste, Joaninha, por quem se apaixona, acabando por se casar e ter dois filhos. 
Passados alguns anos chegam-lhe os caixotes com a tecnologia e os luxos vindos do 202 - o palacete de Paris - , mas agora apenas lhe interessam algumas coisas, como tapetes, cortinas, sofás e o telefone. Zé Fernandes compreende então que a viagem da Cidade para as Serras fora uma viagem de descoberta interior para Jacinto, o qual encontrara o equilíbrio na vida, entre a simplicidade da vida no meio rural e os luxos da cidade: “Então compreendi que, verdadeiramente, na alma de Jacinto se estabelecera o equilíbrio da vida (…)”. Jacinto percebeu que a sua equação para obter a felicidade (“suma felicidade = suma ciência x suma potência”) estava errada, não era a máxima sabedoria e desenvolvimento físico que lhe trariam a felicidade. 
O narrador, Zé Fernandes, depois de passar mais algum tempo em Paris, volta ao campo definitivamente, convencido de que Jacinto estava certo: era bem melhor a vida no campo. Eça de Queirós explica a evolução de Jacinto através de uma metáfora, comparando-o a um ramo ressequido na cidade que quando foi plantado no campo brotou, ganhou raízes e tornou-se
imponente dando sombra a muita gente, ou seja, no campo Jacinto viu a realidade em que viviam as pessoas e ajudou-as, começando pelos seus trabalhadores, dando-lhes todas as condições consideradas por ele essenciais para viver, como saúde, comodidade e até alguns luxos, tornando-se como um salvador entre os mais pobres: “Aquele ressequido galho da Cidade, plantado na Serra, pegara, chupara o humo do torrão herdado, criara seiva, afundara raízes, engrossara de tronco, atirara ramos, rebentara em flores, forte, sereno, ditoso, benéfico, nobre, dando frutos, derramando sombra. E abrigados pela grande árvore, e por ela nutridos, cem casais em redor o bendiziam.”. Jacinto passou de ter nojo da Natureza e só pensar em si próprio a fazer parte dela e ajudar os outros.
 

Com este final, Eça de Queirós critica a alta sociedade da sua altura por só prestar atenção e investir nas inovações tecnológicas e se guiar pela importância do estatuto social, enquanto, no seu ponto de vista, isso nunca lhes trará felicidade; esta resultará, sim, de ajudar os outros,  e de intervir no que os rodeia - na natureza e na sociedade - para que dê frutos e traga a verdadeira felicidade a cada um.

João Saramago
20 de novembro, 2015 15:12




Eliminar

Sem comentários: