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24 outubro 2014

O Infante


 O Infante

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

Deus quis que a terra fosse toda uma,

Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla Branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.
 

Que te sagrou criou-te português.

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal!


1-  Situar na obra   Trata-se do primeiro poema da segunda parte – Mar Português – da Mensagem- antologia (colecção) de poemas de Fernando Pessoa escrita entre 1913 e 1934, data da sua publicação. Esta obra contém poesia de carácter épico-lírico. Nesta segunda parte da obra que nos propomos analisar abordam-se o esforço heróico na luta contra o Mar e a ânsia do Desconhecido.

Aqui merecem especial atenção os navegadores que percorreram o mar em busca da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre de uma missão superior).


2-Figura, facto ou época de Portugal que serve de matéria literária.

A figura portuguesa presente é o Infante D. Henrique e ainda faz referência ao auge da civilização Portuguesa, como já referimos anteriormente os Descobrimentos.

3-Qual a reflexão do poema, o que significa esse acontecimento, essa figura?

A figura de Infante D. Henrique representa os descobrimentos que tem como desígnio(Plano, ideia ou prepósito que alguém pretende realizar) pela força divina       que quis que fossem os portugueses a descobrir(Referir estrofe e verso 1)

O homem haja por vontade divina em consequência dessa vontade a terra foi descoberta, descobrindo então que era redonda e que ao exemplo de outros impérios, tais como, Império Grego, Romano e a Cristandade Europeia que conquistaram bastante território, e em Portugal foi a abertura de mares e descoberta de novos territórios povos e culturas. Na parte espiritual em que o poeta acha que Portugal teve outra parte que representa a organização de valores do pensamento.

No entanto, Portugal não influenciou os povos que descobriu, como o exemplo dos gregos que o seu império caiu há 2 mil anos e ainda temos a maneira de pensar e ainda possuímos o latim que nasceu com os romanos, daí que esta parte ainda não esteja concluída em Portugal, mas ainda existe esperança de que Portugal consiga com que outros povos tenham o mesmo pensamento e os mesmos valores que Portugal.


4- Análise concreta do poema, com referência a todo o vocabulário, os tempos verbais, palavras com carga simbólica, verso-chave, figuras de Estilo mais relevantes no poema.


. 1.ª parte (1.º verso) As três etapas que presidem à construção da obra humana, traduzidas pelo mote / provérbio «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce».

Representa duas ações

- a vontade divina;

- o sonho do homem;


. Os três «sujeitos» dependem mutuamente uns dos outros, numa relação de causa efeito: sem a vontade do primeiro (Deus), o segundo(Homem) não sonharia e a obra não poderia nascer.

. O verso, constituído por três orações assindéticas justapostas (assíndeto e gradação), organiza-se em torno de formas verbais no presente do indicativo, de aspeto durativo, exprimindo realidade, valor de lei, uma verdade universal.

 
. 2.ª parte (versos 2 a 8) Desenvolvimento do primeiro verso:


1) . Desejo de Deus (agente da vontade):

. A unidade da terra, através do mar, de forma a servir de elemento de união entre os continentes e os povos, daí a existência de um conjunto de palavras e expressões que sugerem a ideia de união: «uma», «unisse», «não separasse», «inteira»; (Estrofe 1 verso 2 e 3)

. A colocação das formas verbais predominantemente no pretérito perfeito do indicativo sugere que o princípio em causa e se concretizou.


2) . A sagração do Infante: para o cumprimento dessa missão, Deus sagrou o Infante, isto é, predestinou-o para os grandes feitos das descobertas («… em ti nos deu sinal.» v. 10 estrofe 3) . Foi, então, Deus quem quis que o Infante sonhasse dominar os mares, desvendar o desconhecido e estabelecer a ligação, a nível matéria e espiritual / cultural, ou seja, que desse sonho nascesse a obra dos Descobrimentos.

           Assim, o Infante é o símbolo do herói, destinado a criar uma obra superior.

. A forma verbal «Sagrou» (Estrofe 3 verso 9) possui grande expressividade:

contém ligações religiosas;

remete para o caráter mítico e predestinado do Infante, traduz  

. O complexo verbal «foste desvendando» (v. 4) apresenta a ação como uma continuidade, como algo que se concretizou de modo progressivo, desconhecido.

 
3) . A realização da obra, a sagração:

→ o início da navegação: «foste desvendando» e-1 v-4;

→ a descoberta das ilhas da Madeira e dos Açores até à costa africana: «E a orla branca foi de ilha em continente»;E-2 V-5

→ a passagem do Cabo das Tormentas: «até ao fim do mundo»;e-2 V-6

o mar desconhecido a partir da zona do Cabo das Tormentas: «do azul profundo»;E-2 V-8

a concretização:

. a união da terra: «E viu-se a terra inteira»; E-2 V-7

. o seu caráter súbito: «de repente»; E-2 V-7

. o aparecimento: «Surgir»; E-2 V-8

 
a unificação do mundo alicerçou-se no mar (na «orla branca»);

→ («clareou»)V-6 E-2, ou seja, da ignorância se passou ao conhecimento.

→ «o fim do mundo» V-6 E-2, assim se eliminaram as barreiras e os limites;

→ deste modo, do mar (do «azul profundo»), «de repente», irrompeu a unificação do mundo. V 7/8 E-2

. A realização da obra é sugerida por Pessoa através do recurso a diversos recursos poético estilísticos:

. a gradação relacionada com a enumeração: começou por desvendar «ilha(s)» e «continente(s)»,. as metáforas e as sinédoques são figuras de linguagem que permitem o uso de palavras ou expressões em sentido figurado.: «desvendando a espuma», «orla branca», «clareou, correndo»;

a perifrástica | A conjugação perifrástica é constituída por um verbo principal no infinitivo ou no gerúndio e um verbo auxiliar no tempo que se quer conjugar - «foste desvendando»;


. a locução adverbial | O conjunto de duas ou mais palavras que têm valor de advérbio  «de repente»; V-7 E-2


. Assíndeto  é uma figura de estilo que consiste na omissão das conjunções ou conectivos (em geral, conjunções copulativas), resultando no uso de orações justapostas ou orações coordenadas assindéticas, separadas por vírgulas ou também poderá ser uma gradação/ enumeração : «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce». V-1 e- 1

 
3.ª parte (3.ª estrofe)

Deus sagrou o Infante e criou-o português;

enquanto tal, simboliza o povo a que pertence, o que significa ele foi predestinado, escolhido por Deus para desvendar o mar desconhecido;

 
. o sonho cumpriu-se: o desvendar e a unificação dos mares e a criação do império;

. a pátria, presentemente, não tem desígnio;

. o apelo ao cumprimento do destino mítico de Portugal: uma nova e espiritual missão («Senhor, falta cumprir-se Portugal!» v. 12). Trata-se do apelo a um novo sonho, de cariz espiritual, visto que a dimensão material do império já foi conseguida, ou seja, falta que Portugal se cumpra como pátria e entidade nacional (uso do presente do indicativo para exprimir urgência).

Recursos poético-estilísticos


3. Nível semântico

. Vocabulário de ligações simbólicas:

«sagrou-te»: E-1 V-4; sugere a escolha do Infante para uma missão divina («Deus quer»); e-1 v-1

o uso de maiúsculas (Mar, Império);

«mar»: simboliza o desconhecido, o mistério, daí as expressões «desvendar a espuma», isto é, desfazer o mistério, descobrir, ultrapassando as dificuldades que se lhe deparam; o traço de união de ilhas e continentes (vv. 2-3); «nos deu sinal», ou seja, dar a chave para decifrar o mistério;

 
«espuma» V-4 E-1(branca), «orla branca»E-2 V-1 (é o sulco de espuma deixado pelos navios; simboliza o longo percurso que tiveram de percorrer para que os Descobrimentos se concretizassem), «clareou» V-6 E-2, «surgir» E-2 V-8 (sair das sombras, revelar-se, conhecer), «do azul profundo» V-8 E-2 (do mar imenso e profundo, é o símbolo do desconhecido, em oposição ao «clarear», que é o revelado): estas expressões sugerem a passagem do mistério para a descoberta, para o conhecimento - «E viu-se a terra inteira, de repente, / Surgir redonda…» (Verso 6 estrofe 2).

 
Conclusão

O poema acaba com o verso  “Senhor, falta cumprir-se Portugal!” que resume esta ideia de missão inacabada, que ficou a meio e também a ideia de que Portugal tinha um desígnio divino para esta missão.

 


Adriana Simões e António Rocha 12ºE


Nota: Falta indicar as fontes que serviram de base à análise. Aguardo.

14 outubro 2014

A espada e a pena

 
 
O poeta começa por invocar as ninfas (que podem representar os seus contemporâneos) - "Vós, Ninfas do Tejo e do Mondego”(78, v.3).


O objetivo é pedir às ninfas que lhe dêem inspiração para a composição da obra, com
o receio de que sem a sua inspiração não cumpra o seu propósito (“Que, se não me ajudais,
hei grande medo / Que o meu fraco batel se alague cedo”, 78, v. 7/8)." Batel ", que é uma pequena embarcação, representa a vida e obra do poeta e Camões tem medo de não ser capaz de terminar a obra .

A partir da estrofe 79 o poeta vai fazer um discurso mais autobiográfico utilizando para isso a primeira pessoa e factos de sua vida.
Pinturas - Esqª - Camões, pelo pintor José de Guimarães. Dta. - Retrato coevo - Camões na prisão de Goa Pintura anónima de 1556


Camões exprime agora um estado de espírito diferente do que o caracterizava no
canto primeiro na invocação às Tágides onde se notava que ele tinha força de vontade e
alguma garra para cantar os feitos gloriosos dos portugueses. Agora pelo contrário ele teme
que o barco de sua vida e sua obra não cheguem a bom porto pois percorre um caminho
«árduo, longo e vário» e que se as Tágides não o ajudarem ele teme que o o seu «fraco batel
se alague cedo».
Salienta que tem sempre vindo a cantar os feitos lusos e a lutar pela pátria e comparasse a Cânace, figura mitológica que foi obrigada a suicidar-se pelo seu pai depois de
este ter descoberto que esta mantinha uma relação incestuosa com o seu irmão Macareu da
qual nasceu uma criança que foi morta pelo avô, lançando- a aos cães. Quando Cânace
escrevia a carta de despedida para o irmão esta empenhava numa mão a espada, com a
qual ia tirar a sua vida e noutra a pena, com a qual escrevia. «Nũa mão sempre a espada e
noutra a pena» dizia Camões aliando a sua faceta literária e a sua faceta de guerreiro.
Camões escreve também sobre as dificuldades que passou. Desde pobreza e desilusão a ida a guerras e expedições marítimas. Compara o naufrágio que sofreu no mar da China ao milagre que foi o rei judaico viver mais 15 anos.
Na estrofe 81 e seguintes, Camões volta a invocar as ninfas e realiza uma crítica aos seus contemporaneos, pois eles possuem acesso desonesto ao poder pelo que são extremamente ambiciosos e apenas dão valor ao seus interesses, colocando assim o resto da população em situações de pobreza extrema.Mas a principal crítica que Camões faz é que os artistas(poetas,pintores,escritores,escultores,etc) não são recompensados pelos seus trabalhos, e consequentemente, os nobres, e grandes senhoresnestão a dar um mau exemplo às gerações vindoras, que ao ver que os artistas passados não foram bem recompensados pelo seus trabalhos, irão sentir-se
desmotivados para fazer o que os artistas fazem melhor, que é narrar os feitos grandiosos dos heróis,estes, que os quais sem a ajuda dos artistas não seriam reconhecidos pelos seus feitos.
No final desta reflexão o poeta vai expor claramente as suas intenções, sendo elas quem ele vai ou não vai cantar. Ele começa por enumerar aqueles que definitivamente se
opõe a glorificar com a sua obra, que são: quem coloca os interesses próprios antes do bem
comum e do rei; quem sobe ao poder apenas pela ambição de ter como satisfazer melhor os seus desejos (“por poder (...)usar mais largamente de seus vícios"); quem explora os que têm
menos poder, não dando a merecida recompensa, que é para Camões tão importante; e
ainda quem sobe ao poder através de mentiras, deceções, que são comparados a Proteu.
Para terminar o poeta vai explicar as caraterísticas necessárias para ser um herói, que ele
demonstra ter o desejo de cantar nas suas obras: Arriscar a própria vida e ultrapassar
sofrimentos para chegar a um objetivo, não com vista em obter poder para si, mas pelo bem
do Império e da Fé, assim merecem a imortalidade obtida através do canto dos artistas.

Valter Quintino, Samuel Vicente, Pedro Soares e Joel Santos

As rédeas do reino

Seguem os últimos contributos do 12º C para a compreensão da Dedicatória


Luís Vaz de Camões
Lisboa
 

    Rei D.Sebastião

  A vós, sublime rei, garantia da independência de Portugal, possuidor de um vasto Império, esperança do aumento da pequena Cristandade, vos dedico a obra Os Lusíadas, um novo exemplo do amor dos portugueses pela pátria através dos seus feitos heróicos, os quais vou escrever em verso; vós, poderoso rei, és o senhor superno do povo cujo nome está engrandecido.

  Nesta obra não haverá heróis lendários, mas os heróis portugueses e os seus gloriosos feitos, dos quais te deves orgulhar, destacando os portugueses Nuno Fero, Egas, Dom Fuas e Gama, que toma a fama do lendário Eneias. Vede Afonso I a troco de Carlos, rei de França e de César; o primeiro Afonso de Portugal deixou em seu reino a segurança com a sua vitória na batalha de Aljubarrota. Os meus versos não serão esquecidos por aqueles que se fizeram por armas tão subidos vossa bandeira sempre vencedora.

  Peço-vos, tenro e novo ramo que tomeis as rédeas do reino vosso, para que haja continuidade dos gloriosos feitos portugueses, só assim dareis matéria a nunca ouvido canto.

  Enquanto este tempo passa lento, dai vós favor ao novo atrevimento, para que meus versos vossos sejam.

Lisboa, 1572

                                                            Luís Vaz de Camões
Carolina Batalha


 
 
 



Lisboa, 1572


 V.M. El-Rei D. Sebastião,
 
 Vós, tenro e novo ramo florescente de uma árvore de Cristo, mais amada que nenhuma no Ocidente.
 Vós, ó bem nascida segurança da Lusitana antiga liberdade, e não menos certíssima esperança de aumento da pequena Cristandade.
 Vós que sois o novo temor da Maura lança.
 Vós, ó poderoso Rei, cujo alto Império, o Sol, logo em nascendo o vê primeiro.
 Inclinai por um pouco a majestade, em versos divulgado numerosos, vereis um novo exemplo de amor dos pátrios feitos valerosos; vereis amor da pátria, não movido de prémio vil, mas alto e quási eterno.
 Ouvi agora: vereis o nome engrandecido daqueles de quem sois senhor superno, e julgareis qual é mais excelente, se do mundo ser Rei, ou se ser Rei de tal gente. Não ireis ver louvar os vossos antepassados com vãs façanhas, fantásticas, fingidas, mentirosas, como nas estranhas Musas, de engrandecer-se desejosas, as verdadeiras vossas são tamanhas, que excedem as sonhadas, fabulosas, que ultrapassam Rodamonte e o vão Rugeiro, e Orlando, inda que este fôra verdadeiro.
 Nestes versos vos darei um Nuno fero, que fez ao Rei e ao Reino tal serviço, e dar-vos-ei também aquele ilustre Gama, que para si de Eneas tomou a fama.
 Se igual memória quereis como a de vossos antepassados, a troco de Carlos, Rei de França ou de César, vêde antes o primeiro Afonso, aquele que com a sua lança escura deixou a seu Reino a segurança com a grande e próspera vitória.
 E de seus dois avós, as almas cá famosas; uma na paz angélica dourada, outra, pelas batalhas sanguinosas; em vós esperam ver-se renovada sua memória e obras valerosas; e no templo da suprema Eternidade, no fim da idade, lá vos tem lugar guardado.
 E agora para acabar, é a vós, meu Rei, que dedico os versos nesta obra que é tão valerosa e grandiosa pelos feitos que contém. 

Luís Vaz de Camões
 Margarida
 

Elmo de Batalha de el Rei D.Sebastião
Lisboa

A El-Rei D.Sebastião,
Vós que sois um poderoso rei, vós em quem o povo deposita toda a esperança para conquistar muito do mundo pagão e o converter à fé cristão, vós que sois tão jovem e descendente da família real mais amada de Deus, deixai de lado a Vossamajestade e se olhardes para o chão vereis nada mais do que amor de pátria, alto e quase eterno, no entanto desinteressado. Dir-me-eis: é nesta pátria que pretendeis ser recordado? Vós tencionais ser senhor do mundo ou de tal gente?
Ambos sabemos que os seus sonhos excedem tudo aquilo que jamais foi sonhado. Quereis ser reconhecido? Então lembrai-vos de todos os reis que travaram grandes batalhas, como D. Afonso I, cujos feitos de armas fizeram vencer grandes batalhas, ou até mesmo olhai para D.João II que, ainda príncipe, comandou a independência de Portugal com a
vitória da batalha de Aljubarrota.
E nem os meus versos serão esquecidos por aqueles que no Oriente fizeram da sua bandeira vitoriosa.
Ouvi-me, meu rei: desempenhai a Vossa função de rei e fazei com que um dia sejais cantado como nunca houve outro rei.
Em vós são postos olhares de quem só vê a sua completa ruína. Em vós é vista a paz angélica dourada e em vós vêem batalhas sanguinosas.
Para além disso, espera-se que sejam vistas obras valerosas e que sejam recordadas memórias, para que assim tenhais lugar no Paraíso da eternidade. No entanto, até que esses tempos cheguem, governai este povo e depois fazei com que estes meus versos sejam Vossose que os navegantes Vos elogiem invocando o Vosso nome em momentos de perigo.
Com toda a minha adoração e respeito
Luís Vaz de Camões
Rafael, 12º C


O Desejado

Os Lusíadas – A Dedicatória
 
D. Sebastião, rei de Portugal. Autor: Cristóvão de Morais (?)
 
 
Meu Rei,

     Dedico-vos esta grandiosa obra onde escrevo sobre grandes feitos e conquistas, ao longo de todos estes anos passados, de ilustres portugueses que para isso foram além da força humana.

     Vós, que dais continuidade à independência de Portugal, sois um tenro e jovem rei, grandioso e filho de notável família, novo temor dos Mouros e escolhido por Deus para reinar sobre os portugueses, num poderoso e alto império. Vereis nestes versos grandes feitos de quem reinas. Não são fingidos nem mentirosos, estes são grandes, fabulosos e excedem os sonhados. Como as conquistas de Nuno Álvares Pereira e as do ilustre Vasco da Gama. Mas para conseguirdes igualar tais feitos, vede os de D. Afonso Henriques, D. João I e D. João II que em sucessivas batalhas e vitórias criaram este império e vede também D. Afonso III, IV e V, grandes cavaleiros como tantos outros que nos meus versos não serão esquecidos.

     Peço que tomais as rédeas de Vosso reino e o peso do que haveis herdado. Todos os portugueses esperam de vós grandes batalhas, feitos valorosos e importantes vitórias para dar sucessão às conquistas de Portugal. Assim, no fim da Vossa vida entrareis no templo da eternidade e sereis recordado como todos os que tomareis agora como exemplo.

     Ilustre Rei, desejo, enquanto tudo o que esperamos de vós não se torna real, que estes versos Vos estimulem para esses feitos futuros.


Luís Vaz de Camões

Catarina Francisco Nº8 12º

**********


Sublime Rei,
  Vós sois a esperança do aumento da Cristandade, sois o novo temor dos Mouros, a quem pelo norte de África vais derrotando.
  O fado trouxe-te até nós por meio da majestosa árvore real, para salvares o teu povo das garras dos Castelhanos.
  Ó "Desejado" Rei, olhai do alto da vossa grandeza para a vossa pátria e vede o amor que têm por Vós e os feitos tão grandiosos que um povo tão pequeno pode conseguir. Questionareis o que é melhor: se ser dono do mundo se desta gente.                                    
D. Sebastião, aos 11 anos, (1565), por
Cristóvão de Morais
  Segui o exemplo dos Vossos antepassados que tanta glória trouxeram para o Império agora vosso. Gente que venceu a morte e que vive nas lembranças de quem não as viveu.
  Agora é a Vossa vez, dai-me mais matéria para também eu eternizar na escrita a Vossa memória pelos vossos feitos.
  Não é só da Terra que vós tendes um lugar tão digno. Lá na Olímpica morada tendes o lugar merecido no templo da Eternidade junto às almas de cá famosas.
  Que esse tempo ainda demore para que tenhais tempo de realizar todas as obras valerosas.
  Agora Vos peço, ó Majestade, dai-me a honra de vos dedicar esta nova obra que será tão valerosa como o povo aqui retratado. Irá enaltecer o vosso povo e todos os Vossos antepassado
                                                                    Luís Vaz de Camões 
 
Diana Batalha

Cesário Verde (Revisões)

Conforme foi pedido, deixo os «slides» do PPT da aula referentes apenas aos temas e à linguagem.



















"No princípio de Julho, começara a debandada dos ricos; ficar em Lisboa era o cúmulo da ignomínia social. Centenas de poemas e folhetins pequeno-burgueses denunciam a miséria, atacam os ricos e troçam dos padres: a 19, às cinco horas da manhã, com os pulmões destruídos pela tuberculose, morreu Cesário Verde. Tinha 31 anos e vira o fim chegar “como um medonho muro”.

Em 1886, Portugal era um país predominantemente rural. Fora de Lisboa e do Porto, não havia verdadeiramente cidades. A maior parte da população – 8 em cada 10 portugueses – vivia no campo, trabalhando uma terra pouco fértil mal distribuída. A norte do Mondego predominava a pequena propriedade, cultivada por camponeses e rendeiros pobres; a sul, o latifúndio. Ao contrário do que sucedia nalguns países europeus, a maioria dos senhores residia nas cidades, administrando as suas terras por intermédio de feitores; só um punhado de proprietários rurais se interessava o suficiente pelas suas explorações para aí tentar introduzir as inovações que sabia estarem a ser utilizadas no estrangeiro. Mas, num país que dispunha de uma mão-de-obra barata inesgotável, como Portugal, a mecanização raramente foi um êxito. Apesar de, em 1843, na Granja Real de Mafra, terem sido exibidas várias máquinas agrícolas, quarenta anos mais tarde o seu número era extremamente reduzido. Dos três produtos cultivados em grande escala, o trigo, a vinha e o arroz, só com o primeiro era possível utilizá-las. Assim, a maioria dos trabalhos agrícolas continuou a ser feita por trabalhadores rurais, camponeses ou assalariados, com os métodos que os seus pais e avós usavam há séculos."

Maria Filomena Mónica, in Revista Prelo, nº 12, 1986


Lê o resto do texto sobre o tempo de Cesário Verde AQUI


09 outubro 2014

Patrick Modiano

Nobel da Literatura 2014 distingue 
o romancista francês Patrick Modiano

 
Patrick Modiano com a cantora e compositora Françoise Hardy, 1969, no Bois de Bologne (Paris)

Imagens do romancista publicadas no sítio Babelio


"No Café da Juventude Perdida", de 2007, e "O Horizonte", de 2010, são obras de Patrick Modiano já  publicadas em Portugal.


 "Durante seis meses, deslocou-se regularmente a casa de Simone Cordier para lhe remeter novas páginas e recuperar as já dactilografadas. Por precaução, pedira-lhe que conservasse em sua casa as folhas manuscritas.
- Receia alguma coisa?
Lembrava-se perfeitamente de que, certa noite, a mulher lhe fizera esta pergunta, fixando-o com um olhar surpreendido e ao mesmo tempo benevolente. Naquele tempo, a inquietação devia transparecer no seu rosto, na maneira de falar, de caminhar e mesmo de se sentar. Apoiava-se sempre no rebordo das cadeiras ou das poltronas, apenas com uma nádega, como se não se sentisse realmente no seu lugar e se preparasse para fugir. Por vezes, esta atitude surpreendia num jovem de estatura elevada e cem quilos de peso. Diziam-lhe: “Está mal sentado… Descontraia-se… Ponha-se à vontade…”, mas era mais forte do que ele. Exibia frequentemente um ar de quem se desculpa. De quê, afinal? Era a pergunta que muitas vezes fazia a si próprio quando caminhava sozinho pelas ruas. Desculpar-se de quê, hein? De viver? E não conseguia evitar uma sonora gargalhada que levava os transeuntes a voltarem-se para trás."
 
Patrick Modiano, O Horizonte (2011)
Crítica do Livro
Rostos, episódios breves, encontros singulares.
Tudo isto começara como que a vir ao de cima na memória de Jean Bosmans. Chegavam de um passado longínquo, do tempo da sua juventude, de há 40 anos atrás. "E, se todas as palavras ficassem suspensas no ar até ao fim dos tempos e bastasse um pouco de silêncio e de atenção para captar os seus ecos?"


"Quando entrei no Condé, os ponteiros do relógio redondo da parede do fundo marcavam exactamente cinco horas. Em geral, ali, é uma hora morta. As mesas estavam livres, excepto a que se situava ao lado da porta, à qual se sentavam Zacharias, Annet e Jean-Michel. Olharam-me de uma maneira estranha. Não disseram nada. Os rostos de Zacharias e Annet estavam lívidos, com certeza por causa da luz que entrava pela janela. Não responderam quando lhes disse bom-dia. Fixaram-me daquela maneira estranha, como se eu tivesse feito algum mal. Os lábios de Jean-Michel contraíram-se e senti que queria falar comigo. Uma mosca pousou nas costas da mão de Zacaharias e ele enxotou-a com um gesto nervoso. Depois pegou no copo e bebeu o conteúdo de um trago. Levantou-se e avançou em direcção a mim."
Patrick Modiano, No Café da Juventude Perdida (2007)

Retrato melancólico da boémia parisiense dos anos 60 num livro sobre a perda e o poder magnético dos lugares.

«O escritor francês Patrick Modiano é o galardoado com o Prémio Nobel da Literatura 2014, foi hoje anunciado pelo Comité do Nobel.
A Real Academia de Artes Sueca jutifica sucintamente a decisão: "Pela arte da memória com que ele evocou o mais incompreensível dos destinos humanos e pôs a descoberto da vida no mundo da ocupação".
Patrick Modiano nasceu em Boulogne-Billancourt, nos arredores de Paris, em Julho de 1945, e publicou o seu primeiro romance, La Place de l'Étoile, em 1968. Com Rue des boutiques obscures obteve, em 1978, o Prémio Goncourt. Em 1972, recebeu o Grande Prémio de Romance da Academia Francesa.
Considerado um dos mais importantes escritores franceses, e autor de uma vasta obra, Modiano foi distinguido recentemente com o Grande Prémio Nacional das Letras e com o Prémio Margerite-Duras.
O galardão será entregue numa cerimónia em Estocolmo, a 10 de dezembro, dia do aniversário do industrial Alfred Nobel, que instituiu o galardão.
O ano passado a vencedora foi a canadiana Alice Munro. José Saramago foi o único autor de língua portuguesa a ganhar o prémio Nobel da Literatura, em 1998. »


Fonte:VISÃO, 9 de outubro de 2014