Resposta à dúvida da Rafaela (devem rever os apontamentos)
A analogia
Peixes – Homens
A razão de
ser, o propósito de louvar e repreender os peixes, nas partes II, III, IV e V,
é chamar a atenção, criticar e procurar emendar os homens, em particular os
colonos e fazendeiros do Maranhão, que escravizavam os índios e os impediam de
ter uma vida com um mínimo de condições, direitos e dignidade.
Assim:
- Os peixes têm algumas virtudes que os homens não
possuem :
–
Ouvem e não falam
–
Foram os primeiros a ser criados
–
São os mais abundantes
–
São obedientes e respeitadores
–
Salvaram Jonas (mostrando-se menos “selvagens” que os humanos)
Ø Apesar de
não serem dotados de razão/entendimento, fazem dela
mais uso do
que os homens, que sendo racionais, agem de forma
irracional
Ø Também os
exemplos fornecidos ajudam a perceber defeitos dos homens, por contraste com as
virtudes de cada um destes peixes:
-
Tobias (poder curativo)
-
Rémora (força e poder)
-
Torpedo (energia)
-
Quatro-olhos (para olhar para o alto, o céu, e para baixo, não se esquecendo
que há inferno)
Os homens têm todos os defeitos criticados nos peixes
Defeitos
gerais
-
Voracidade
-
Ignorância e cegueira
-
Vaidade
Defeitos
específicos
- Roncador(arrogância)
-
Pegador (oportunismo)
-
Voador (ambição)
-
Polvo (hipocrisia; traição).
Em síntese,
este sermão de PAV:
–
Foi pregado em São Luís do Maranhão, a 13 de Junho de 1654, três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino.
–
Parte da observação sobre os vícios e vaidades do Homem,
comparando-o através de alegorias, aos peixes.
–
Critica a prepotência dos grandes/dos poderosos (colonos,
fazendeiros, servidores do reino) que são, como os peixes, vivem do
sacrifício de muitos pequenos, os quais
"engolem" e "devoram".
–
Tem como alvo os colonos do Maranhão, que no Brasil são grandes
e prepotentes, mas em Portugal "acham
outros maiores que os comam, também, a eles."
–
Censura os indivíduos soberbos (os rocandores), os que vivem à
custa dos outros(pegadores); os ambiciosos(voadores); os hipócritas e traidores
que ao falsos cristãos ou fingem defender o rei e o reino (polvos).
Vieira
mantém a ironia até ao fim, como quando refere a terminar a parte
V do sermão:
Ø «Oh que boa doutrina era esta para a terra, se eu não pregara para o
mar!»
ou, já na parte VI:
Ø «Também este
ponto era muito importante e necessário aos homens, se eu lhes pregara a eles.»
Mas em vários momentos a sua crítica é
direta e não irónica ou por subtendidos. Ex. da parte IV:
Ø «Dir-me-eis que o mesmo fazem os homens. Não vo-lo nego. Dá um exército
batalha contra outro exército, metem-se os homens pelas pontas dos piques, dos
chuços e das espadas, e porquê? Porque houve quem os engodou e lhes fez isca
com dois retalhos de pano. A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto e
que mais facilmente engana os homens.».