Total visualizações

12 abril 2013

Concurso de Leitura - As cidades invisíveis, de Ítalo Calvino

Maria, Mariana e Fox

Creio, pelas discussões (e ecos), que já chegaram ao essencial, ao significado da obra. Ainda assim, deixo apoios.

Alguns estão em Port. do Brasil, com diferenças que facilmente identificam.


 "Em narrativas breves, As cidades invisíveis, de Italo Calvino põe em cena o veneziano Marco Polo descrevendo para o grande Kublai Khan as inumeráveis cidades que visitou em suas missões diplomáticas pelo império mongol.

Nesta obra Italo Calvino extrapola os fatos possíveis e imagina um diálogo fantástico entre "o maior viajante de todos os tempos" e o famoso imperador dos tártaros. Melancólico por não poder ver com os próprios olhos toda a extensão dos seus domínios, Kublai Khan faz de Marco Polo o seu telescópio, o instrumento que irá franquear-lhe as maravilhas de seu império. Polo então começa a descrever minuciosamente 55 cidades por onde teria passado, agrupadas numa série de 11 temas: "as cidades e a memória", "as cidades e o céu", "as cidades e o mortos" etc.

O desejo de Khan é montar o império perfeito a partir dos relatos que ouve. São lugares imaginários, sempre com nome de mulher Pentesiléia, Cecília, Leônia.

Muralhas. Torres. Bichos rastejantes, peçonhentos, repelentes. Brejos ao lado de cachoeiras. Mundos ínferos percebidos pelos sentidos. Estátuas de bronze. Cristais. Uma imensa amplitude de territórios cercados de maravilhas. Cidades imagináveis. Cidades-armadilhas. Sentimentos e desejos contraditórios, reprimidos e gozados. Anastácia. Entre uma cidade e outra não se fala dos espaços que as separam. Entre um território e outro os intervalos não são visíveis. Percorre-se continentes, mas o trajeto é desconhecido, só se sabe da partida e da chegada. Literatura fantástica? Sensações de estranhamento no leitor perante o fascínio pelas aventuras que essas estranhas cidades oferecem. A excitação de Kubla Klan perante a narração de Marco Polo impulsiona suas narrativas a fermentarem outras, refluindo as recordações e dilatando sua imaginação, como nas Mil e uma noites.
(...)
Kublain Khan olha para seu imenso território e parece não conseguir vê-lo em toda a sua extensão. O objetivo desses relatórios seria tentar compreender as posses e os limites do Imperador, bem como os detalhes que não pudessem ser observados no momento das ocupações. A idéia de tempo parece ser projetada pelo autor, nessas passagens, na medida em que o território é a própria vida de um indivíduo e que suas acumulações materiais (a conquista em si dessas cidades) transformam-se em fatos, e as acumulações desses fatos tornam-se posteriormente eventos perdidos no passado. Mas o resgate, o relatório, pretende objetivamente restabelecer essa ligação, e é a partir de então que a memória é utilizada, ou melhor, forjada, inicialmente buscando uma imagem fiel daquilo que é o passado.

O erro dessa busca incessante por uma determinada verdade é que faz com que Khan perceba que seu império é recheado de problemas e falhas, um esfacelo sem fim e sem forma se transformando na própria realidade. É o desespero causado pelas tentativas ininterruptas de recuperação do passado almejadas pela História, do ponto de vista do senso comum. As narrativas fantásticas, o olhar detalhista e a percepção mínima dos eventos também conferem a Marco Pólo o lugar de viajante preferido, o principal relator de eventos. Nesse momento, o personagem veneziano passa da condição de mero viajante para um possível lugar de arquivista.

Ao final de As cidades invisíveis, Marco Polo discorre sobre as possibilidades da cidade perfeita, que poderá estar aflorando dispersa, fragmentada em algum lugar, e não como uma realidade pronta e totalizante. O que importa, diz ele, é procurar essa terra prometida visitada pela imaginação mas ainda não conhecida ou fundada. Não é possível, contudo, traçar a rota nos mapas para chegar até ela. A reação de Kublai Khan, o interlocutor do viajante veneziano, frente a essa impossibilidade, é dar a última palavra, quando ressalta nos seus mapas “as ameaçadoras cidades que surgem nos pesadelos e nas maldições” e conclui: “É tudo inútil, se o último porto pode ser a cidade infernal, que está no fundo e que nos suga num vórtice cada vez mais estreito”. O imperador, assim, corrói as esperanças na utopia, quando a percebe subtraída, enquanto certeza, de seu horizonte de expectativas. À palavra que autoritariamente decreta e absolutiza, Marco Polo opõe, no entanto, um outro discurso que relativiza e contra-argumenta: “O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos”. Perfeição e inferno são, assim, termos em tensão, que não se anulam na visão das cidades contemporâneas. Parece que Italo Calvino aponta, com suas alegorias, para o esgotamento da cena moderna, para o ultrapassamento dos valores utópicos em que a modernidade se fundamentava.

 As cidades invisíveis de Ítalo Calvino são metáforas das nossas construções mentais e paralelamente, da incessante busca humana por significados. As cidades são construções feitas a partir da nossa memória que lhes dá valor e significado. A memória é o pilar dessas construções, edificações e estão interconectadas e vinculadas em nossos espaços geométricos através de ruas, cantos, esquinas (simbólicas) da nossa intrínseca mente e do nosso inconsciente, elas são misteriosas e inefáveis. Como poderia então ser descrita para alguém a cidade de Zaíra? Se ela só adquire significado, ou seja, se ela só toma forma, a partir daquilo que lhe atribuímos? Através das nossas lembranças, vínculos, identificações."


VER MAIS EM
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/as_cidades_invisiveis

Sem comentários: