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10 dezembro 2020

Ricardo Reis, conceitos; linguagem e estilo

As moiras   Na mitologia grega eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos
    Sob a leve tutela/De deuses descuidosos, /Quero gastar as concedidas horas /Desta fadada vida. / Nada podendo contra / O ser que me fizeram, / Desejo ao menos que me haja o Fado /Dado a paz por destino. /Da verdade não quero/ Mais que a vida; que os deuses /Dão vida e não verdade, nem talvez /Saibam qual a verdade.
      Ricardo Reis, in "Odes"    
Porque a vida é breve e os deuses comandam é necessário aproveitar cada hora na ilusão da liberdade, porque só temos de nosso o presente:

Cada dia sem gozo não foi teu
Foi só durares nele. Quanto vivas
Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!

Ricardo Reis


Na procura do equilíbrio, da serenidade e da moderação, o poeta reintroduz tópicos poéticos clássicos, que tinham sido muito apreciados pelos poetas neoclássicos do século XVIII (árcades, da Arcádia):
- Locus Amoenus (local ameno)
- Carpe Diem (aproveitar o momento)
- Aurea Mediocritas (equilíbrio de ouro)

Lê a informação seguinte:
 "Aurea Mediocritas é uma designação latina que podemos encontrar numa das Odes (II, 10, 5) de Horácio e que expressa a ideia de que só é feliz e vive tranquilamente quem se contenta com pouco. [N]estes poemas entre a variedade de temas tratados, que vão desde o amor e amizade aos valores morais de Roma, têm especial relevo os que se inspiram no carácter efémero da vida, no prazer, na inconstância da Fortuna e nas formas de resistência. Especificamente nestes assuntos o autor procurou demonstrar a conveniência do seguimento de um ideal de Mediania Sensata (Aurea Mediocritas), extremamente vantajoso para que se possa alcançar a felicidade."

 Aurea Mediocritas. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.
 .

 Já o termo "Locus amoenus" (lugar ameno)  foi usado na literatura e na pintura por oposição a 'locus horrendus'. Seria um local de segurança e tranquilidade, situado quase sempre fora dos limites citadinos, em geral, paisagens tranquilas e por vezes bucólicas.* Representa igualmente o regresso ao 'paraíso perdido'.

Bucólica - campestre, pastoril, ligada à vida rural. 

 Representação da Arcádia, Peloponeso, na Grécia (motivo de inspiração)

Linguagem e estilo:

A poesia de Ricardo Reis
- privilegia a ode, o epigrama e a elegia, formas poéticas clássicas
- métrica - verso irregular e predominantemente decassilábico (10 sílabas)
- verso branco (sem rima, como nos clássicos)
- apresenta um estilo muito depurado e elegante, marcadamente erudito (culto):
  • . usa a inversão da ordem lógica da frase (hipérbato)
  • . recorre a vocábulos latinos - latinismos
  • . refere amplamente nomes e mitos da antiguidade
- termos associados às temáticas do destino, da morte e da vida, bem como signos associados à natureza e ao fluir do tempo - rio, rosa, sol, dia/noite; o jardim também tem expressão e simboliza a presença divina na terra, uma representação do cosmos em miniatura, mas também a vontade humana. Na análise dos sonhos, o jardim traduz a riqueza interior .


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