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09 julho 2010

Felizmente há Luar!

Com Felizmente Há Luar! – e à maneira de Bertot Brecht – Luís de Sttau Monteiro pretende “ensinar”, obrigar a reflectir sobre as realidades do seu tempo (1961), analisando as situações através da apresentação de personagens, fora do tempo do espectador, cujos comportamentos valem pela sua exemplaridade.
Pondo em relevo os conflitos entre grupos sociais em 1817, pretende levar o espectador a ver de fora – já que se trata de outra realidade – a analisar e tirar conclusões sobre, por exemplo: 

  • O autoritarismo dos governantes, que não hesitam em perseguir e matar para se manterem no poder e garantirem a “ordem” dos poderosos

  • A prepotência e servilismo das classes dirigentes (representadas por D. Miguel)

  • A interferência da Igreja nos negócios do estado e a sua aliança com o poder autoritário; o domínio pelo terror, em nome de Deus

  • A mesquinhez, oportunismo e imoralidade dos delatores – Vicente, pela traição e a denúncia ganha um posto na polícia; vende-se pelo preço de um emprego

  • A coragem e a honradez dos que lutam pelas suas convicções, independentemente das consequências que possam sofrer; os que não se vendem – General;

  • O peso na consciência dos que podem agir para mudar e não o fazem – Sousa Falcão

  • A coragem e determinação de lutar contra a adversidade – Matilde

  • Os prejuízos causados pelo medo, a falta de determinação, o silêncio face à injustiça – os populares que facilmente se deixam enganar e/ou desistem de lutar

No caso da peça Felizmente Há Luar, as didascálias funcionam como um texto paralelo que enquadra, “traduz”, clarifica / limita a interpretação do texto teatral.

Muitas vezes nem se refere a indicações cénicas: consiste antes em comentários, antecipações, observações, referências psicológicas sobre as acções das personagens...

Ex: “O Principal Sousa, que só no segundo acto se revela inteiramente, apenas pretende salvar a sua consciência (…)”;
“A ingenuidade do Principal Sousa não é verdadeira. Este prelado defende-se, sempre, tentando mostrar-se alheio à política e as decisões em que intervém.”
- “Dois Polícias – iguais a todos os polícias”

- “Três conscienciosos governadores do reino”

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