Total visualizações

25 janeiro 2010

Camões, Os Lusíadas


Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente. (C.X, 154)

 





OS LUSÍADAS E MENSAGEM
 
- Palavras de grandes estudiosos e pensadores portugueses sobre as duas obras -

Prof. Jacinto Prado Coelho

"Os poemas de Camões e de Fernando Pessoa sobre Portugal situam-se respectivamente no início e na fase terminal do longo processo de dissolução do império. Daí notáveis diferenças, a par de afinidades sensíveis."

 

"Ambos se mostram impregnados duma concepção mística e missionária da História portuguesa (talvez seja melhor dizer missionante, para evitar equívocos). D. Sebastião, n' Os Lusíadas, é um enviado de Deus incumbido de alargar a Cristandade: «Vós, ó novo temor da Maura lança, / Maravilha fatal da nossa idade, / Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, / Para do mundo a Deus dar parte grande» (I, 6). Na Mensagem, Portugal é um instrumento de Deus, a História pátria obedece a um plano oculto, os heróis cumprem um destino que os ultrapassa: «Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal / A mão que ergueu o facho que luziu, / Foi Deus a alma e o corpo de Portugal / Da mão que o conduziu».


" Em Camões, põe-se no mesmo plano a memória e a esperança. Em Pessoa, não, porque o objecto da esperança se transferiu para o sonho, a utopia e daí uma concepção diferente do heroísmo ". (D' Os Lusíadas à Mensagem, p. 106)

Ensaísta Eduardo Lourenço: "Fernando Pessoa foi o primeiro que percebeu que Os Lusíadas já não nos podiam ler como até então nos tinham lido e que chegara o tempo de sermos nós a lê-lo a ele".
 
  • Evita ler materiais dispersos na internet ou em alguns manuais, que são leituras (às vezes fracas) de leituras de leituras: requentadas e com pouco a propor-nos de novo.
  • Perde o teu tempo a ler as próprias obras (os excertos indicados, prioritariamente).
Existe também disponível online a edição crítica da MENSAGEM (excertos de), obra memorável pela qualidade dos especialistas que junta. É um trabalho monumental, mas podes consultar só o que te interessa, nomeadamente os poemas que não estejam incluídos no Manual, muitas vezes com explicações e esclarecimento do significado simbólico de certas palavras/expressões:


Os textos do Prof. Jacinto do Prado Coelho aqui ncluídos foram retirados de:
O texto inicial de JPCoelho e o de Eduardo Lourenço foram publicados online pela Univ. Fernando Pessoa







4 comentários:

João Francisco Bastos disse...

Os poemas de Camões e de Fernando Pessoa sobre Portugal situam-se respectivamente no início e na fase terminal do longo processo de dissolução do império. Daí notáveis diferenças, a par de afinidades sensíveis."


Como a própria professora Noémia disse na aula, podemos associar a obra a "mensagem" a uma fase final de um espírito de conquista e aventura que era esse espírito português, retratado nos "Lusíadas". A meu ver estas duas obras são pontos marcantes no início e no fim de um país que tanto contribuío na era dos descobrimentos... Por exemplo, D.Sebastião, com apenas 17 anos deu a sua vida a defender a pátria numa batalha considerada impossível. Um gesto de honra, coragem e bravura, um pouco de o espírito que falta a Portugal no tempo de Fernando Pessoa...

Noémia Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Noémia Santos disse...

João

Não me esqueci da tua contribuição.

Agora já serás capaz de a retomar de um modo ainda mais aprofundado.

Claro que Camões ainda está relativamente perto da grande empresa que foram os Descobrimentos, com a força, a energia e a vontade "mais do que prometia a força humana".

Mas está também já suficientemente distante para ver com agudeza
os males e o anúncio de uma decadência. Nesse sentido, já nem Camões está no início da jornada.

Pessoa, claro, já vive num tempo de Nevoeiro completo...Mas atenção - para o poeta é Hora!



No teu texto, escapou um ozinho maroto: "contribuíu na era dos descobrimentos", assim.

Pedro Miranda disse...

Apesar de saber que a poesia de Fernando Pessoa é posteior temporalmente em relação á obra os Lúsiadas, detetei uns pequenos versos do canto décimo em que a ideologia de Camões difere e aparenta ser contrária à ideologia de Pessoa.
Os versos são os seguintes (estância 152, canto X)
"Tomai conselho só de esprimentados,/Que viram largos anos, largos meses,/ Que posto que em cientes muito cabe,/Mais em particular o experto sabe"
Camões aconselha só homens experimentados, pois, embora os que estudaram pelos livros tenham muita capacidade, o experimentado conhece melhor as particularidades das coisas. É a este nivel que noto uma disparidade entre uma ideologia por parte da tomada pela experiência, pela realidade (Camões) e uma outra ideologia tomada pelo estudo com bases no ser sem a experiência, com base no imaginário, nos sonho. De certa forma podem estar associados os versos: "Amor é melhor experimentá-lo que julgá-lo/ e julge-o quem não o pode experimentar." Aqueles que não podem experimentá-lo avaliem pela imaginação. Mais uma vez esta ideia reme-te para a poesia pessoana. Não sei até que ponto esta analogia poderá ou não estar correcta :)