Total visualizações

30 janeiro 2010

Exames



PROVA 639 (Português)

16 de Junho, 4ª feira, 14h00

14 de Julho, 4ª feira, 09h00
 
 


Na altura própria, não deixes de consultar as "dicas" de preparação para os exames, que coloquei no  moodle.




As imagens: sítio da Universidade Nova, Fac. de Ciências e Tecnologias - http://www.fct.unl.pt/
 
Este sítio tem imensas referências a cursos, programas de estudo, apoios e outros projectos que te interessam. Passa por lá!
 

25 janeiro 2010

Camões, Os Lusíadas


Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente. (C.X, 154)

 





OS LUSÍADAS E MENSAGEM
 
- Palavras de grandes estudiosos e pensadores portugueses sobre as duas obras -

Prof. Jacinto Prado Coelho

"Os poemas de Camões e de Fernando Pessoa sobre Portugal situam-se respectivamente no início e na fase terminal do longo processo de dissolução do império. Daí notáveis diferenças, a par de afinidades sensíveis."

 

"Ambos se mostram impregnados duma concepção mística e missionária da História portuguesa (talvez seja melhor dizer missionante, para evitar equívocos). D. Sebastião, n' Os Lusíadas, é um enviado de Deus incumbido de alargar a Cristandade: «Vós, ó novo temor da Maura lança, / Maravilha fatal da nossa idade, / Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, / Para do mundo a Deus dar parte grande» (I, 6). Na Mensagem, Portugal é um instrumento de Deus, a História pátria obedece a um plano oculto, os heróis cumprem um destino que os ultrapassa: «Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal / A mão que ergueu o facho que luziu, / Foi Deus a alma e o corpo de Portugal / Da mão que o conduziu».


" Em Camões, põe-se no mesmo plano a memória e a esperança. Em Pessoa, não, porque o objecto da esperança se transferiu para o sonho, a utopia e daí uma concepção diferente do heroísmo ". (D' Os Lusíadas à Mensagem, p. 106)

Ensaísta Eduardo Lourenço: "Fernando Pessoa foi o primeiro que percebeu que Os Lusíadas já não nos podiam ler como até então nos tinham lido e que chegara o tempo de sermos nós a lê-lo a ele".
 
  • Evita ler materiais dispersos na internet ou em alguns manuais, que são leituras (às vezes fracas) de leituras de leituras: requentadas e com pouco a propor-nos de novo.
  • Perde o teu tempo a ler as próprias obras (os excertos indicados, prioritariamente).
Existe também disponível online a edição crítica da MENSAGEM (excertos de), obra memorável pela qualidade dos especialistas que junta. É um trabalho monumental, mas podes consultar só o que te interessa, nomeadamente os poemas que não estejam incluídos no Manual, muitas vezes com explicações e esclarecimento do significado simbólico de certas palavras/expressões:


Os textos do Prof. Jacinto do Prado Coelho aqui ncluídos foram retirados de:
O texto inicial de JPCoelho e o de Eduardo Lourenço foram publicados online pela Univ. Fernando Pessoa







10 janeiro 2010

Autopsicografia (Intelectualização do sentir)




Creio que têm já muitas notas, textos de apoio e notas para guiar as vossas análises escritas. Todavia, como sei que gostam muito de procurar outras ajudas, deixo um exemplo (apenas isso, um exemplo) de exploração temática e linguística do poema referido.
Quando fizerem os vossos não devem terminar assim, abruptamente, optando por umúltimo parágrafo de síntese interpretativa, de fecho.

EXEMPLO:
"A julgar pelo título, estamos perante uma descrição da própria alma, apresentada em três estrofes, constituindo cada uma delas uma parte do poema:
1. Na primeira estrofe temos já, em síntese, o pensamento implícito no conjunto do poema. Sendo “um fingidor”, o poeta não finge a dor que não sentiu. Finge aquela de que teve experiência directa. (...) Todavia, a dor que o poeta realmente sente não é aquela que deve surgir na sua poesia. Pessoa não considerava a poesia a passagem imediata da experiência à arte, opunha-se a toda a espontaneidade. Por isso, exigia a criação de uma dor fingida sobre a dor experimental.
O poeta, desde que se propõe escrever sobre uma dor sentida, deve procurar representar, materializando-a, essa dor, não nas linhas espontâneas em que ela se lhe desenhou na sensibilidade, mas no contorno imaginado que lhe dá(...)
Sobre o modelo da sua dor inicial, ou melhor, originária, o poeta finge a dor em imagens e fá-lo tão perfeitamente que o fingimento se lhe apresenta mais real do que a dor fingida. Assim, a dor fingida transforma-se em nova dor (imaginária), cuja potencialidade de comunicação absorve todas as virtualidades da dor inicial. Tratando-se duma transformação do plano vivido em plano imaginado, ela prepara a fruição impessoal das dores que a poesia pode proporcionar ao leitor.

 

2. Na segunda estrofe, os leitores de um poema não terão acesso a qualquer das dores – a dor real ou a dor imaginária: a dor real ficou com o poeta; a dor imaginária não é já sentida pelo leitor como dor, porque o não é (a dor é do mundo dos sentidos e a poesia – dor imaginária ou representada – é da esfera do espírito). Assim se compreende o último verso desta estrofe (“Mas só a que eles não têm”): os leitores só têm acesso à representação de uma dor intelectualizada, que não lhes pertence.

3. Na terceira estrofe, se a poesia é uma representação mental, o coração (“esse comboio de corda”), centro dos sentimentos, não passa de um entretenimento da razão, girando, mecanicamente, “nas calhas” (símbolos de fixidez e impossibilidade de mudança de rumo) do mundo das convenções em que decorre a vida quotidiana. Sempre a dialética do ser e do parecer, da consciência (razão) e da inconsciência (coração = comboio de corda), a teoria do fingimento.
A tripartição que apresentamos é denunciada pela conjunção “e” que inicia as 2ª e 3ª estrofes. No entanto, consoante o assunto, a composição poderia ser dividida em duas partes: a primeira constituída pelas duas primeiras estrofes onde o sujeito poético explica a sua teoria da intelectualização do sentir e a segunda constituída pela última estrofe onde ele conclui, através de uma metáfora, a veracidade dessa teoria.
O carácter verdadeiramente doutrinário deste poema faz com que predominem as formas verbais no presente (sendo o pretérito perfeito “teve”, no terceiro verso da segunda estrofe, a única excepção), tempo que conota uma ideia de permanência e que aqui aparece utilizado para sugerir a afirmação de algo que assume foros de verdade axiomática (“O poeta é um fingidor”) em que o facto de se utilizar a 3ª pessoa do singular do presente do Indicativo do verbo ser vem reforçar o atrás afirmado e impor, desde logo, a tese do poema.
A outra categoria morfológica com peso neste poema é o substantivo (poeta, fingidor, calhas, roda, razão, comboio, corda, coração), duas vezes substituído por pronomes demonstrativos (“os” no primeiro verso da 2ª quadra e “a” no último verso da mesma estrofe).
Há três advérbios de significado semelhante que é necessário referir, pela importância que assumem na caracterização das três “dores” abordadas no poema:
“finge (…) completamente” (o poeta)
“… deveras sente” (o poeta)
“…sentem bem” (os leitores)
De notar ainda o seguinte:
Na primeira quadra, há três palavras da família do verbo fingir (a tese) – fingidor, finge e fingir – e repete-se a palavra dor nos 3º e 4º versos.
Na segunda quadra, surgem-nos as formas verbais lêem, escreve, sentem, teve (= sentiu) e não têm (= não sentem), que conglobam os três tipos de dor de que atrás falamos: a dor verdadeira que o poeta teve; a dor que ele escreve e aquelas que os leitores lêem e não têm.
Na terceira estrofe, realçamos as formas verbais “gira” e “entreter”, porque sugerem a feição lúdica da poesia, cabendo à razão um papel determinante na produção poética. Enquanto ao coração cabe girar em calhas e entreter, fornecer emoções, à razão fica reservado o papel mais importante de toda a elaboração que foi apresentada nas duas primeiras quadras.
Ao nível sintáctico, verificadas as características de autêntico texto teórico que o poema reveste, o tipo de frase teria de ser o declarativo. (...)
A nível fónico, este é um poema semelhante a muitos outros de Pessoa ortónimo, de versos curtos (sete sílabas), se bem que haja, por vezes recurso ao transporte. Os versos agrupam-se em quadras e apresentam algumas irregularidades rimáticas e métricas, que não são de estranhar em F. Pessoa.
No aspecto semântico, verifica-se a utilização de uma linguagem seleccionada e simples, o que não quer dizer que a sua compreensão seja fácil. Tal fica a dever-se a vários factores:
Aproveitamento de todas as capacidades expressivas das palavras e a repetição intencional de algumas (dor, cognatas de fingir e ter, com o significado de sentir, verbo que também é usado duas vezes).
Utilização de símbolos: “comboio de corda” (brinquedo que vem sugerir o aspecto lúdico da poesia > o comboio (coração) fornece à razão o ponto de partida para a criação (fingimento); “calhas” (implicam a dependência do sentir em relação ao pensar (razão).
O uso de metáforas, com saliência para a que é constituída pelo primeiro verso do poema e para o conjunto que constitui a imagem final: o coração apresentado como um comboio de corda que gira nas calhas de roda a entreter a razão.
A perífrase do 1º verso da 2ª quadra (“Os que lêem o que escreve”, em vez de “os leitores”).
O recurso ao hipérbato, na última quadra, pela colocação das palavras fora do lugar que pelas regras normais da sintaxe, deveriam ocupar."



Melhor que tudo isto: os vossos textos. Aguardo.


08 janeiro 2010

Para ver e ouvir ...


Uma flor acaso tem beleza?

Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma

Por adnavsneto*

E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.

Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!


Alberto Caeiro




Para ouvir as palavras de Fernando Pessoa e dos heterónimos:
POEMA SELECCIONADOS (a 10 Jan.)


http://www.youtube.com/watch?v=VbG0hu5V4AA&feature=related

(Poema em Linha Recta, por Paulo Autran)

http://www.youtube.com/watch?v=_2cDWc3qYlA&feature=related

(Poema em Linha Recta, por Packman)

http://www.youtube.com/watch?v=IpDuOXM4xwQ
 (Esta velha angústia)


http://www.youtube.com/watch?v=SaRSBFc-VCA
(Grandes são os desertos; foi prémio de vídeo da Secretaria Estado da Culturaq do Brasil)


http://www.youtube.com/watch?v=tkZrfooeOIc
Tabacaria (excerto)

http://www.youtube.com/watch?v=MT4TzcqImJI&feature=related
(Se te queres…)


http://www.youtube.com/watch?v=IQJPdOlRUd0&feature=related
(vv. Guardador de Rebanhos, por Mário Viegas, in Palavras Ditas, 6’)


MENSAGEM


foto da autora do blogue
O Infante, por Elba Ramalho (musicado)


Imagem de frutos: http://media.photobucket.com/image/Imagens%20frutos/adnavsneto/Frutas/Frutas0006.jpg