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05 maio 2009

Crítica de Teatro

AS VONTADES E OS SONHOS

Crítica ao Espectáculo Memorial do Convento

Realizada a 14 de Abril, no Teatro-cine de Torres Vedras, a representação de Memorial do Convento, de José Saramago, levou ao teatro inúmeros alunos do 11º e 12º anos da Secundária Henriques Nogueira e da ESCO. A carismática obra escrita pelo nobel da literatura, José Saramago, é um romance, ainda que possua uma clara presença da oralidade.

A sua adaptação para teatro carece de correcta interpretação, análise e resumo de uma obra tão complexa e longa. Além disso, a representação do século XVIII, se pretender ser naturalista, é dispendiosa a nível de gurda-roupa e aderços.

Numa adaptação teatral, a subjectividade do encenador é evidenciada; esta peça não foi excepção: enquanto determindas passagens são apresentadas, tais como os autos-de-fé, o voo da passarola, outras são omitidas ou simplesmente referidas, como o transporte da pedra de Pêro Pinheiro, a tourada, a estadia de Baltasar em Mafra, entre outras. Tal facto é aceitável, tendo em vista a extensão do texto original. No entanto, existem alguns episódios aos quais o autor dá um relevo que seria suficiente para serem mantidos, como é o caso do transporte da pedra.
A nível do guarda-roupa, a opção pelo facto-macaco é económica e aceitável, tendo em conta que simboliza o trabalho.

Quanto ao cenário, destaca-se apenas um elemento - o andaime, símbolo da obra, da construção, meio auxiliar que permite aos operários chegar mais alto, ir mais longe, tal como acontece com a passarola. Este elemento está muito bem pensado. A projecção de imagens, por outro lado, podia ter sido mais explorada.

A representação esteve, em geral, a bom nível, com actores e actrizes a interiorizar bem o seu papel. Apenas gostei menos da opção pela ridicularização de D. João V, a qual me parece excessiva, embora reconheça que cria uma quebra na solenidade e adiciona-lhe um elemento dinâmico e cómico. Igualmente a cena final - muito marcante, a meu ver, é representada com um execesso de leveza e falta de expressão; acho que ganhava com mais espessura e peso.

Em suma, ainda que seja, compreensivelmente, um resumo da obra, a representação permite rever a leitura do romance e dar rostos aos nomes de cada personagem. A obra original é excepcional e com esta peça a Casa dos Afectos revela uma honesta vontade de a divulgar aos alunos e ao público em geral. Afinal, as vontades são as impulsionadoras dos sonhos.

Dário Nascimento, 12º A, nº 10
Nota: Texto crítico seleccionado, na turma 12º A; será enviado para a CASA DOS AFECTOS, como acordado.