Total visualizações

27 janeiro 2009

Os Lusíadas - A arquitectura da obra I

Camões*
No exame de 2008 Os Lusíadas foram objecto do grupo I da prova, contariando a ideia (errada) de que só poderá vir a propósito de Mensagem. Podes consultar a PROVA.

Eis aqui o excerto em causa:

Estâncias 89 a 93 de Os Lusíadas, transcritas do Canto IX.

Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,
Tétis e a Ilha angélica pintada1,
Outra cousa não é que as deleitosas
Honras que a vida fazem sublimada2.
Aquelas preminências3 gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada
De palma e louro, a glória e maravilha,
Estes são os deleites desta Ilha.


Que as imortalidades que fingia
A antiguidade, que os Ilustres ama,
Lá no estelante Olimpo4, a quem subia
Sobre as asas ínclitas da Fama,
Por obras valerosas que fazia,
Pelo trabalho imenso que se chama
Caminho da virtude, alto e fragoso,
Mas, no fim, doce, alegre e deleitoso,


Não eram senão prémios que reparte,
Por feitos imortais e soberanos,
O mundo cos varões que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos.
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte,
Eneas e Quirino e os dous Tebanos5,
Ceres, Palas e Juno com Diana,
Todos foram de fraca carne humana.


Mas a Fama, trombeta de obras tais,
Lhe deu6 no Mundo nomes tão estranhos
De Deuses, Semideuses, Imortais,
Indígetes7, Heróicos e de Magnos.
Por isso, ó vós que as famas estimais,
Se quiserdes no mundo ser tamanhos,
Despertai já do sono do ócio ignavo8,
Que o ânimo, de livre, faz escravo.


E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente:
Milhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.



Luís de Camões, Os Lusíadas, ed. prep. por A. J. da Costa Pimpão,
5.ª ed., Lisboa, MNE/IC, 2003

Vocabulário:
1 Ilha angélica pintada: representação, pintura de uma ilha linda, que lembra um lugar habitado por anjos.
2 sublimada: ilustre, célebre.
3 preminências (por preeminências): distinções, superioridades, honrarias, louros, prémios.
4 no estelante Olimpo: na brilhante morada dos deuses.
5 os dous Tebanos: Hércules e Baco.
6 Lhe deu: lhes deu.
7 Indígetes: divindades primitivas e nacionais dos Romanos.
8 do ócio ignavo: do ócio indolente, preguiçoso.



No Centro Virtual do INSTITUTO CAMÕES pode ler-se esta breve mas curiosa síntese sobre OS LUSÍADAS:

"Poema épico (1572) de Luís de Camões, de inspiração clássica (segundo a Eneida, de Virgílio) mas de manifesto saber contemporâneo, colhido na observação, é constituído por dez cantos compostos de décimas em decassílabos heróicos, e vive de uma contradição esteticamente harmonizada entre a acção das divindades pagãs (que ajudam ou prejudicam o progresso dos Portugueses na viagem marítima para a Índia, tema do livro) e a tutela do sentimento cristão e da expansão da fé, que anima um ardor de conquista e de possessão do mundo.

Vasco da Gama é o herói, Vénus a sua deusa protectora e Baco o adversário temido - mas a «lusa gente» chega à Índia, dá «novos mundos ao mundo», e o Poeta narra este empreendimento insigne alternando a fogosidade do entusiasmo e da crença com o desengano do reconhecimento da mesquinhez humana, «mísera sorte, estranha condição».

Escrito com mestria narrativa exemplar, o poema representa o exercício em perfeição da língua portuguesa, moderna, dúctil e rica em complexidade expressiva e em matizes líricos de excepção."

*Imagem em regueifadoirao.blogs.sapo.pt

**Imagem em pedraformosa.blogspot.com

4 comentários:

Anónimo disse...

Os dois últimos versos são simplesmente verdadeiros e fantásticos, nada melhor para retratar a verdadeira glória da vida.

Anónimo disse...

Não entendi o que Camões queria "dizer" na 1ª estrofe =/

Anónimo disse...

Qual primeira, Ana Filipa?

Da Proposição?

Noémia Santos disse...

É esta? A da Prova?

"Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,
Tétis e a Ilha angélica pintada1,
Outra cousa não é que as deleitosas
Honras que a vida fazem sublimada2.
Aquelas preminências3 gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada
De palma e louro, a glória e maravilha,
Estes são os deleites desta Ilha."

Esta estrofe refere-se à Ilha dos Amores, a recompensa simbólica, imaginária, que Camões inventa para premiar V. da Gama e os marinheiros.

São as honras, as delícias e os triunfos merecidos por quem se esforçara tanto para cumprir o objectivo: atravessar os mares e chegar à Índia.