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14 dezembro 2007

Às Escuras, O Amor

Crítica do espectáculo
ÀS ESCURAS, O AMOR

O que é o Amor? Porque é que se sofre quando se ama? Porque é que gosto de me apaixonar? Será que “o outro” me quer? Bem me quer, mal me quer... Porque é que quando me apaixono perco a fome? Como é que eu lhe digo que me apaixonei? Se me apaixonar vai ser para sempre? Só me posso apaixonar por uma pessoa de cada vez? Gosto tanto daquele meu amigo. E isto, é amor? Tantas perguntas. E as respostas? Todas dirão o mesmo: é um salto no abismo, uma passagem para o desconhecido. ÀS ESCURAS, O AMOR: um espectáculo para quem não tem medo do escuro.

Ficha técnica:Textos : VáriosEncenação: Rui PauloPesquisa: Cristina Paiva e Fernando Ladeira Interpretação: Cristina PaivaDJing: DJ grandESonoplastia: Fernando LadeiraConcepção Plástica: Maria LuizFotografia: Carla d’Almeida Lopes e Vitor MM Costa Produção: Andante Associação Artística
[Informação contida no folheto do espectáculo]

"Às escuras, o amor” (título de um poema de David Mourão Ferreira), com poemas sobre o Amor de vários autores, maioritariamente portugueses, foi o espectáculo que fomos ver, no dia 6 de Dezembro. Como temos estado a trabalhar a Crítica, o 12ºE resolveu aceitar o desafio da actriz Cristina Paiva e enviou para a Companhia de Teatro as suas apreciações, sugestões e críticas. Aqui ficam.

É com gosto que vos informo que a Companhia de Teatro Andante lhes respondeu e vai publicar os textos (ou excertos).

I

Somos alunas da Escola Secundária Henriques Nogueira e assistimos ao vosso espectáculo no Auditório Municipal . Vimos por este meio felicitar o vosso trabalho e agradecer a vossa vinda à nossa cidade, Torres Vedras.

Como espectadoras aprovamos a vossa iniciativa e temos um grande reconhecimento por todos aqueles que fazem do teatro a sua vida. Em primeiro lugar, temos a apontar o facto de ter sido um monólogo, o que torna a peça mais cansativa mas nem por isso menos interessante; seria mais dinâmico com a existência de uma outra personagem em palco, cuja interacção criaria um jogo de sedução, levando a um confronto entre poemas. Talvez pelo tema abordado ter sido o amor, notou-se um maior interesse e entusiasmo por parte do público feminino, e por sua vez, uma inquietação e constrangimento da parte masculina.

Em segundo lugar, elogiamos a excelente memória e interpretação da actriz Cristina Paiva, que no nosso entender esteve muito bem, querendo também dar os parabéns ao restante elenco. Pelo espectáculo ter sido maioritariamente poesia estudada pelos alunos do secundário desperta um interesse pelo gosto da leitura e o gosto pelo teatro. Incentivamos à criação de novos espectáculos com uma temática diferente e desse modo chegar a todas as faixas etárias.

12ºE (fico à espera que se identifiquem, meninas: é o grupo da Catarina, Ana Carolina...?)
11 Dezembro, 2007 13:20.



II
Segundo a perspectiva do nosso grupo o espectáculo foi deveras interessante. Como todos os espectáculos teve aspectos negativos e positivos. Negativos, pois na opinião de alguns membros do grupo foi um pouco monótono em algumas situações. Não houve diversidade de cenários e situações, mas isto deve-se ao facto de ser um monólogo, e um peça deste género é difícil de captar o interesse contínuo do público, pois temos de estar centrados numa só pessoa. Por outro lado, também encontramos vários aspectos positivos, como a dinâmica em palco, a diversidade de poemas, a expressividade da actriz a interpretar os textos e o excelente trabalho de conseguir colocar em paralelo som e poesia. O actor que fazia de Dj também teve um papel importante, pois as suas expressões e maneira de estar foram importantes para o espectáculo. Assim como as músicas que foram escolhidas para fazer parte do espectáculo, deram outro sentimento à peça e mais versatilidade.
Carlos Ferreira, Cidália Miguel ,Joana Simões, Pedro Santos.

"Blog" - Porosidade estérea - dedicado à poesia: http://www.andante.com.pt./quemsomos.html
Companhia de Teatro Andante: http://www.andante.com.pt./quemsomos.html



11 dezembro 2007










Numa sociedade em que os livros eram proibidos, a opinião das pessoas era controlada pelo governo e onde a função dos bombeiros era queimar bibliotecas, Ray Bradbury apresenta-nos a história de um “soldado da paz” – Guy Montag – que lê um livro e, a partir desse momento, põe em causa a sua profissão e todo o seu modo de vida.
Fahrenheit 451 é uma obra de ficção científica abordada de um modo particularmente especial, cuja interpretação remete para as entrelinhas, e nos obriga a pensar na importância da cultura escrita na formulação de opiniões livres e diversificadas sobre todo o tipo de assuntos, de forma a enfrentar a vida de um modo activo.
É uma ode à acção, à não passividade – no fundo, à individualidade e à opinião.É uma obra que se manteve imortal devido à mensagem que transmite. A censura e a repressão são males que afligem, ainda hoje, muitas sociedades actuais.É um livro aconselhado a leitores que gostam de desafios.

Uma das últimas cenas do filme de François Truffaut, baseado no livro

12º B: Diana, João M; João T, Ivo, Vanda; Joana D., Luís

26 Novembro, 2007 12:03

NOTA: O título Fahrenheit 451 é uma referência à temperatura que os livros são queimados. Convertido para Celsius, esta temperatura equivale a 233 graus.

1984



1984
Um manifesto ao controlo e à manipulação



Esta obra fala de uma sociedade que vive controlada e manipulada constantemente e que se submete ao poder do “Grande Irmão”.

A escrita do livro é densa e profunda e embora seja altamente descritiva quem não conseguir penetrar neste mundo apocalíptico possivelmente não achará este livro interessante.


O que realmente desperta atenção ao leitor é o facto da sociedade retratada poder facilmente encaixar-se nos parâmetros realistas do nosso mundo. Isto porque o leitor apercebe-se, desde o início do livro, que a estrutura social da Oceânia (país da personagem principal do livro) poderia muito bem ser vivida por nós neste momento ou noutro momento da história da humanidade. Isso é o que torna toda a leitura assustadora.

Embora o comunismo seja o alvo principal a abater de George Orwell, a crueldade e toda a crueza descritas poderão ter também outras leituras, como análises de políticas extremas de direita. Apercebemo-nos assim, com um pouco de reflexão, de que os extremos acabam sempre por se juntar.

O excessivo controlo e manipulação, que embora seja eticamente desprezível, é socialmente
perfeito. E Orwell brinca com isso e com estas oposições:
  • A melhor forma de manter a Paz é com a Guerra.

  • A liberdade prende-os.

  • A ignorância faz a força.

É por isso que este livro é uma obra prestigiada da literatura mundial.


12ºH . André, João e Rute

Livros para gente com sentido crítico


Crítica do livro

BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO


Bryson, Bill Quetzal Editores 2004


Uma excelente forma de aprender as leis da física e compreender os fenómenos naturais mais marcantes da nossa história."Breve história de quase tudo" desenrola-se numa exaustiva viagem feita pelo narrador para aprofundar alguns assuntos da ciência. Trata da física, geologia, biologia, química, sismologia... todas elas interligadas, tornando subtil a aprendizagem do leitor. Com a máxima organização e bastante dinâmica, este livro relata os mais curiosos detalhes com uma enorme brevidade e eficácia, tais como a teoria da relatividade ter surgido de uma aposta entre dois cientistas.


Apesar de o livro tratar destes assuntos de uma forma mais "soft" e com alguma ironia à mistura, o autor alia o rigor científico a uma linguagem mais acessível ao grande público. Com a leitura desta grande obra de Bill Bryson, o leitor passa a ter outra percepção da ciência e das teorias científicas, tornando a mente mais acolhedora às maravilhas da natureza, podendo assim observar e analisar novas propostas de investimento de uma forma mais consciente.
Gustavo Lucas 12ºB
26 Novembro, 2007 11:43
Califórnia, Leões marinhos na Baía de S. Francisco
N.S., Agosto 2006


10 dezembro 2007



PALAVRAS E SANGUE


Giovani Papini



Escrito no início da carreira literária de Giovanni Papini, entre 1907 e 1910, quando este se assumia como sendo um escritor de vanguarda, Palavras e Sangue é um livro onde este autor quebra todas as convenções e qualquer preconceito que pudessem existir nesta época. Explorando vários temas relacionados com a Vida e o Pensamento, desde o amor à religião, cada um meditado em cada conto, Papini apresenta-nos sobre estes a sua reflexão e conclusões aliando a tragédia à comédia, tocando até o absurdo.

Com narrativas caricatas, mas belas, este livro apresenta-se ao leitor como um desafio aliciante, como um convite à reflexão, ao pensamento. Num estilo mordaz e audaz, de uma ironia e sabedoria desarmantes, Papini dá-nos vinte e quatro contos, que são alegorias a algumas verdades da Vida e do Pensamento. Neles a Razão está sempre presente de uma forma algo estranha. Uma Razão que. por vezes, parece não ter razão, parecendo talvez absurda, mas que é, quiçá, aquele sangue de que se fala no título, de onde brotam as palavras reveladoras e a reflexão sobre elas.


Contemporâneo de Fernando Pessoa, curiosamente, algumas das concepções filosóficas que Papini revela neste livro vão ao encontro do pensamento de Pessoa. Exemplo disto é a reflexão que o escritor italiano faz sobre o mundo real e o mundo sonhado/imaginário; a sua conclusão de que o seu mal terrível, e também o de tantos outros, é o pensamento, a reflexão; algumas das suas concepções sobre a Vida; e ainda, o binómio do querer/fazer explorado pelo autor.


Aqui deixo uma passagem que considero reveladora e arrebatadora:





«Homens, perdemos a vida pela morte, consumimos o real pelo imaginário, damos valor aos dias unicamente porque nos conduzem a dias que não terão outro valor senão o de nos levarem a outros dias semelhantes a eles... Homens, toda a nossa vida é um engano atroz, que nós mesmos tecemos em nosso próprio dano, e só os demónios podem rir friamente desta nossa corrida para o espelho que foge». Esta é uma passagem onde o autor defende que vivemos apenas para o futuro.Por tudo o que já referi, sou de opinião de que este livro deve ser lido, reflectido, pensado. Com ele aprendi que a Vida pode ter para cada um diversos sentidos, mas independentemente do sentido ou filosofia de vida que escolhemos, vivemos para o futuro, «o espelho que foge», vivemos com a esperança de concretizar os nossos sonhos, e finalmente, vivemos para receber...a morte.



Inês Joaquim 12ºH


28 Novembro, 2007 19:02

LIVROS

Começa hoje a divulgação das vossas críticas de livros e sugestões de leitura, no âmbito do Contrato de Leitura deste 1º período. A primeira refere-se a um dos livros mais conhecidas do escritor português
Ferreira de Castro, A SELVA, lido por alguns alunos do 12º E e do 12ºH.


O livro d' "A Selva". Já em crianças crescemos com "O Livro da Selva" de Rudyard Kipling, aquela bem conhecida história do menino criado por lobos que vive na selva e tem como amigos um urso e uma pantera; uma selva onde tudo floresce, tudo é verde e tudo é belo..."Alberto", de Ferreira de Castro, também vive n'"A Selva", mas esta em nada se iguala à de Mogli. Esta selva aprisiona, "desumaniza" e tal como Ferreira de Castro o diz: "Daquela bárbara grandiosidade e da sua estranha beleza, uma só forte impressão ficava: a inicial, que nunca mais se esquecia e nunca mais também se voltava a sentir plenamente. Solo de constantes parturejamentos, obstinado na ânsia de criar, a sua cabeleira, contemplada por fora, sugeria vida liberta num mundo virgem, ainda não tocado pelos conceitos humanos; vista por dentro, oprimia e fazia anelar a morte."

Nunca estive numa selva, mas tal é a profundidade na descrição de Ferreira de Castro da floresta amazónica que qualquer pessoa consegue formar a imagem das suas palavras. É notável o esforço de Ferreira de Castro em conseguir "mostrar" a Selva de forma "quase- imparcial", uma vez que não a adjectiva segundo os seus gostos (bonita, feia, são adjectivos que F. Castro nunca utiliza, pois não a caracterizam verdadeiramente), mas tenta caracterizá-la de acordo com as impressões do protagonista (Alberto). Isto faz com que nós, leitores, não nos sintamos excluídos e possamos, "construir" as nossas próprias impressões.

Um livro cujo contexto espacio-temporal em nada se assemelha ao meu e, possivelmente ao seu, mas ainda assim actual, pois impõe a questão da humanidade e da justiça: até que ponto somos influenciados por aquilo que nos rodeia? Será a "Justiça" apenas uma? É, sem dúvida, um livro meritório de apreço, pela sua história envolvente e, acima de tudo, pela forma como nos desperta e agita, não nos deixando passivos e indiferentes à realidade. Diria até o "must-read" número 502! [alusão ao livro apreciado em aula 501 MUST-READ BOOK]
Lisa Hartje Moura, 12º H

26 novembro 2007

Análise de poema

EsCriTaS


Para exemplificar o trabalho que pedi que fizessem - como treino do pensamento reflexivo e da análise de texto, deixo uma produção referente à "Ode Triunfal". Espero que sirva de estímulo.


"Neste poema está presente um desejo exaltado de sensações, de todas as sensações, de sentir tudo através de todos os sentidos; esta exaltação dá pelo nome de sensacionismo e apareceu com muitos outros -ismos no início do século XX.

Este excesso de sensações resulta assim num movimento frenético, extenuante e ruidoso dado através da adjectivação e da utilização de palavras concretas, como "maquinismos", "lâmpadas eléctricas", "engrenagens", "êmbolos", etc. Este movimento feroz é transmitido também pela antítese, presente, por exemplo, nos versos:"...tudo o que passa e nunca passa!" e "Do tumulto disciplinado das fábricas", e ainda pelo paradoxo, dado, por exemplo, pela expressão "insinceramente sinceros". Um dos recursos mais utilizados neste poema, e talvez o que mais dá a ideia de excesso de sensações, movimento extenuante e mistura de sentidos é a sinestesia. Os versos que mais transmitem este recurso e as ideias anteriormente referidas são os últimos versos deste excerto:"Como eu vos amo de todas as maneiras,/Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto/E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)/E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!/Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!".

Em suma, na "Ode Triunfal", o poeta (quase que) deseja sair de si, sair do seu corpo e entrar em todos os mecanismos desta civilização febril e sedenta de evolução, de vanguardas, de movimento e mudança, o poeta quer sentir tudo, todas as sensações possíveis e impossíveis com todos os sentidos, quer sentir tudo de todas as maneiras.

Inês M., 12ºH
24 Novembro, 2007 12:05

13 novembro 2007

Álvaro de Campos



- pistas para rever e ampliar o conhecimento das aulas -



"totalmente desconhecido dos antigos"

Traço sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,

Firmo o projecto, aqui isolado,

Remoto até de quem eu sou.


Álvaro de Campos, Dactilografia (19/12/1933)




Álvaro de Campos
  • é o “cantor da fúria e das vertigens da civilização mecânica” (Jacinto do Prado Coelho)
  • é “o futurista, o sensacionista, o cantor da civilização mais moderna (...) o tradutor do ímpeto, do movimento, da energia vital, comunicador de experiências de êxtase, libertador das mais secretas correntes aquáticas torrenciais” (António Quadros)
  • o alter ego corajoso de Fernando Pessoa ortónimo
Futurismo
"Movimento artístico e literário que teve origem no início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial, e que se desenvolve na Europa, sobretudo em Itália, com os trabalhos de F. T. Marinetti, que estudara em Paris (...); foi ele quem elaborou o primeiro manifesto futurista, publicado em Le Figaro, em 1909, cujo original em italiano contém as seguintes premissas:
1. Noi vogliamo cantare l’amor del pericolo, l’abitudine all’energia e alla temerità.
2. Il coraggio, l’audacia, la ribellione, saranno elementi essenziali della nostra poesia.
3. La letteratura esaltò fino ad oggi l’immobilità pensosa, l’estasi e il sonno. Noi vogliamo esaltare il movimento aggressivo, l’insonnia febbrile, il passo di corsa, il salto mortale, lo schiaffo ed il pugno.
4. Noi affermiamo che la magnificenza del mondo si è arricchita di una bellezza nuova: la bellezza della velocità. Un automobile da corsa col suo cofano adorno di grossi tubi simili a serpenti dall’alito esplosivo... un automobile ruggente, che sembra correre sulla mitraglia, è più bello della Vittoria di Samotracia.
[...]


Marinetti apelava não só a uma ruptura com o passado e com a tradição mas também exaltava um novo estilo de vida, de acordo com o dinamismo dos tempos modernos.
No plano literário, a escrita e a arte são vistas como meios expressivos na representação da velocidade, da violência, que exprimem o dinamismo da vida moderna, em oposição a formas tradicionais de expressão. [...]O futurismo contesta o sentimentalismo e exalta o homem de acção. [...] pelo elogio ao progresso, à máquina, ao motor, a tudo o que representa o moderno e o imprevisto.


Marinetti evoca a libertação da sintaxe e dos substantivos. É neste sentido que os adjectivos e os advérbios são abolidos, para dar mais valor aos substantivos. A utilização dos verbos no infinito, a abolição da pontuação, das conjunções, a supressão do “eu” na literatura e o uso de símbolos matemáticos são medidadas inovadoras. De igual modo, aparecem novas concepções tipográficas ao surgir a recusa da página tradicional.



O futurismo influenciou a pintura, a música e outras artes como o cinema. O cinema era então visto como uma nova arte de grande alcance expressivo.


(vê um excerto de Tempos Modernos, de Charlie Chaplin, evidentemente em outro registo - satírico, crítico)

O futurismo foi responsável pelo aparecimento de numerosos manifestos e exposições que provocaram escândalos.[...]

O futurismo difunde-se em vários outros países, para além da Itália e da França, incluindo Portugal. [...]Mário de Sá-Carneiro e Álvaro de Campos aderem ao futurismo, assim como José de Almada Negreiros com o Manifesto Anti-Dantas (1916), onde se apresenta como poeta futurista do Orpheu. [...]

Importa destacar as condições em que Fernando Pessoa reconhece o futurismo nas sua própria poesia. Em carta ao Diário de Notícias, esclarece: “O que quero acentuar, acentuar bem, acentuar muito bem, é que é preciso que cesse a trapalhada, que a ignorância dos nossos críticos está fazendo, com a palavra futurismo. Falar de futurismo, quer a propósito do primeiro número do Orpheu, quer a propósito do livro do Sr. Sá-Carneiro, é a coisa mais disparatada que se pode imaginar. (...) A minha Ode Triunfal, no primeiro número do Orpheu, é a única coisa que se aproxima do futurismo. Mas aproxima-se pelo assunto que me inspirou, não pela realização - e em arte a forma de realizar é que caracteriza e distingue as correntes e as escolas.” (Carta datada de 4-6-1915, in Obras em Prosa, vol.V, org. de João Gaspar Simões, Círculo de Leitores, Lisboa, 1987, pp.208-209).

Álvaro de Campos foi directamente influenciado por outra das grandes figuras de inspiração dos poetas futuristas, o norte-americano Walt Whitman. A revista Portugal Futurista sai logo de circulação pelo seu aspecto provocatório. [...] Com o desaparecimento prematuro de Amadeo e Santa-Rita Pintor, em 1918, e com a dispersão de outras personalidades do futurismo, este acabaria por se dissipar.

O texto sobre o Futurismo foi retirado, em 21 de Novembro/07, do sítio da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa a seguir indicado, e reproduzido com cortes.


A pedido de vários alunos, aqui deixo excertos da "Ode Marítima".


ODE MARÍTIMA
a Santa Rita Pintor
[...]
Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos de trás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa. Mas a minh'alma está com o que vejo menos,
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.
Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.
Yeh eh-eh-eh-eh-eh! Yeh-eh-eh-eh-eh-eh! Yeh-eh-eheh-eh-eh-eh-eh!
Grita tudo! tudo a gritar! ventos, vagas, barcos,
Marés, gáveas, piratas, a minha alma, o sangue, e o ar, e o ar!
Eh-eh-eh-eh! Yeh-eh-eh-eh-eh! Yeh-eh-eh-eh-eh-eh! Tudo canta a gritar!
[...]
Parte-se em mim qualquer coisa. O vermelho anoiteceu.
Senti demais para poder continuar a sentir.
Esgotou-se-me a alma, ficou só um eco dentro de mim.
Decresce sensivelmente a velocidade do volante.
Tiram-me um pouco as mãos dos olhos os meus sonhos.
Dentro de mim há um só vácuo, um deserto, um mar noturno.
E logo que sinto que há um mar noturno dentro de mim,
Sabe dos longes dele, nasce do seu silêncio,
Outra vez, outra vez o vasto grito antiquíssimo.
De repente, como um relâmpago de som, que não faz barulho mas ternura,
Subitamente abrangendo todo o horizonte marítimo
Húmido e sombrio marulho humano noturno,
Voz de sereia longínqua chorando, chamando,
Vem do fundo do Longe, do fundo do Mar, da alma dos Abismos,
E à tona dele, como algas, bóiam meus sonhos desfeitos…

Álvaro de Campos

17 outubro 2007

"abrindo a janela para dentro de mim"


Olho para mim. E o que vejo? Alguém. Indefinido, definido, estranho, conhecido... Sei o que sou, sei o que sinto, mas não sei se serei e sentirei sempre da mesma forma. Quero manter-me, mas sei que a mudança em mim é constante e se aproxima, sempre, cada dia mais.
Como me vêem, não sei, como me sentem, não imagino. Gostaria de ter uma visão completa sobre o olhar alheio, mas seriamente, não faço a mais pequena ideia do que pensam quando olham para mim.
Vejo-me como sou, com fraquezas e falhas profundas, e com medos inimagináveis, ridículos? Sim, por vezes, mas sou eu. Sou assim!
Aquilo que sou agrada-me. Por ser tão eu, apenas por ser eu. Gosto que gostem de mim por ser assim, mas não sei se realmente gostam.Olho-me e ainda encontro pedaços do que fui outrora. Sorrio.
A.B.
12ºE

O mundo dela resumia-se a um pouco de água entre quatro paredes de vidro. Isso, alguma areia. Algas, pedras de diversos tamanhos, a miniatura em madeira de uma caravela naufragada. Ah! E trinta e sete outros peixinhos, quase todos irmãos de A., ou primos, tios, parentes próximos. Havia ainda uma velha tartaruga, chamada Alice, que já vivia no aquário quando os avós de A. nasceram.
Os peixes acreditavam que Alice vivia no aquário desde a criação do Universo e ela deixava que eles acreditassem naquilo.
Às vezes os peixes mais velhos contavam histórias que tinham escutado aos seus avós. Diziam que, para além das paredes do aquário, longe dali, havia água, tanta água que um peixe podia passar a vida inteira a nadar, sempre em linha recta, sem nunca bater de encontro a um vidro. A essa água imensa, onde tinham nascido os primeiros peixes, chamava-se Portugal. Os peixes falavam de Portugal como quem fala de um sonho.
A. tantas vezes escutou aquela história que um dia decidiu perguntar a Alice, a sua amiga tartaruga. Essa tartaruga era velhíssima, devia saber, tinha de saber. Encontrou-a a tomar sol em cima de uma pedra. A. prendeu a respiração, ergueu a cabeça acima da água, e fez-lhe a pergunta. Alice torceu a boca numa careta de troça: - Disparate: Portugal não existe! Não existe nada para além daquelas quatro paredes de vidro, a nossa França. O universo inteiro…somos nós!
A. foi-se embora pensativa. Sempre que ouvia falar de Portugal, o aquário chamado França parecia-lhe mais pequeno. Não achava possível que os peixes, seus avós, tendo vivido sempre dentro de um aquário tão grande como a França, tivessem conseguido inventar uma coisa tão pequena como Portugal.


(... continua)
A.P.
12º E

Quem quiser ler todo o texto - e saber o final - veja em "Comentário".

A Infância

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

Há portas que precisamos abrir na nossa vida, mesmo que - olhando do limiar - nos pareça duvidoso ou difícil passar para o outro lado.

Para entrar na poesia de um dos maiores poetas do século XX - Fernando Pessoa, escolhi a INFÂNCIA como porta, larga e acessível a todos nós, porque, numa mistura de realidade, memória, ideia mitificada ou imagens que os outros sobre nós criaram, todos temos uma.


Aos olhos de alguns a minha infância terá sido apenas mais uma infância igual às de outros milhões de pessoas; para outros, nem essa importância terá. Para mim foi talvez a fase mais especial da minha vida, talvez por acreditar que é nesta altura em que somos mais despreocupados, em que podemos brincar sem toda a gente a olhar para nós (...)

Fábio Pires
12ºTPG
[N]a minha infância estava sempre a brincar, não tinha responsabilidades. vivia cada dia como se fosse o último, tinha sempre uma brincadeira, um amigo (...)
Francisco Gomes
12º TPG

25 julho 2007

André e Lisa na Gulbenkian


A boa notícia já todos vocês sabiam: a atribuição à página criada pelos colegas André Moreira e Lisa Moura (11º H) do 3º prémio do Concurso Nacional Rómulo de Carvalho/António Gedeão - O Poeta da Ciência - promovido pelo Plano Nacional de Leitura e a Fundação Calouste Gulbenkian .
Agora fica o testemunho da intervenção na Fundação Gulbenkian, no dia 4 de Junho, na cerimónia da entrega dos prémios, pois a Fundação teve a gentileza de aceder ao nosso pedido das fotografias.


A Lisa e o André usando da palavra para apresentação do seu trabalho


Estiveram na cerimónia várias personalidades ligadas ao Plano Nacional de Leitura e à Fundação Gulbenkian, bem como o filho de Rómulo de Carvalho. Os prémios foram entregues pela Ministra da Educação, que dirigiu aos alunos palavras de incentivo.
Para além do prémio para os alunos, foi atribuído à Henriques Nogueira um cheque-brinde de 500 euros.

Toda a turma participou, bem como a directora de turma, a professora da área de estudos, Artes, e eu, pelo Português. Também está na fotografia uma tradutora de língua gestual que acompanhou os trabalhos. Estão ainda alguns alunos de outra turma que partilham disciplinas com os colegas do 11º H.

A imagem foi obtida no átrio da Fundação, tendo por fundo o painel da autoria de Almada Negreiros, pintor, desenhador e poeta, entre outros ofícios.

Com este bom testemunho termino os trabalhos do ano lectivo. Amanhã começam as minhas férias. Não esqueçam que a partir do início de Setembro poderão começar a escrever para aqui ou para o e-mail: dúvidas, pedidos, sugestões.


ATENÇÃO: O Diário de Notícias está a oferecer (isso, zero euros) bons livros da literatura universal - muito variados, desde policiais à Divina Comédia - com a compra do jornal, às segundas, quartas e sextas. Aproveitem!

Boas férias.

24 junho 2007

Oficina de Escrita com Luísa Costa Gomes

A oficina de escrita realizada na Biblioteca com a escritora Luísa Costa Gomes teve como resultado vários contos ou esboços de contos para depois desenvolver. Aqui fica um deles. Quem quiser ver publicados os seus, envie para comentários.



A despedida

O relógio da Estação marcava oito horas e quarenta e seis. Estava uma manhã que prometia um dia de Sol, mas ainda assim uma brisa gelada…parecia que adivinhava o que se passava com aquelas duas pessoas. Muitos silêncios que diziam tudo nesta conversa…‘Tens a certeza?’ –perguntou ela. Era sempre assim, meio insegura…tentando por tudo que ele voltasse atrás também. Ele olha-lhe com todo o carinho e diz - ‘Desta vez não tenho certeza de nada...mas que posso fazer?’.
Ela baixa a cabeça. Não queria acreditar na dor que aí se aproximava. Oito e cinquenta. ‘Faltam dez minutos…tenho que entrar até lá. O comboio não espera por mim…’ diz o rapaz, fixado no cabelo da rapariga. Amara sempre o cabelo dela. Lembrava-lhe o dia ventoso que tinham passado uma vez na praia…em que ela só reclamava do vento e lhe dizia que ficava mais feia…ele sorria. Sorria sempre e dizia ‘ Meu amor, ficas linda de qualquer maneira…’ e calava-a com um beijo… e ela acreditava . E era a mais feliz com ele. Por que tinha tudo de ser diferente agora? Ela não entendia nada…a razão para o homem da sua vida se ir embora…dar por terminada a relação mais plena que ela alguma vez tinha sentido…e sabia que para ele também assim o era. Naquela estação, ela sabia-o, ela sentia-o de igual maneira. O seu olhar para ela continuava o mesmo. Até demonstrava já saudade… não entendia. Não queria entender. Ela amava-o. Ele também, apesar de lhe dizer que já não… cinco para as nove. O relógio desafiava o tempo que escasseava… a rapariga ainda tentava convencer o amado. ‘Esquece. Esquece-me. É melhor…vou para longe, tu sabes. Quero outra vida…desculpa alguma coisa…e obrigada.’, diz o rapaz a tentar por tudo disfarçar a pior dor que já tinha sentido. E estava a sentir. Um desculpa e um obrigada…palavras que significam muito…tudo isto… na sua voz… ‘ O que mudou afinal?’ pergunta ela já a chorar. ‘Tudo. Eu mudei, tu mudaste…quero outra coisa para a minha vida. Mas foste tudo na minha vida…’ ‘Que interessa se fui, se já não sou mais? ‘, o rapaz abraça-a. Com todo o respeito, com todo o mais verdadeiro amor. ‘ Meu amor, és tudo para mim. E por seres a minha vida tenho que partir. A minha vida vai acabar daqui a um mês como me disseram no hospital . Não quero que sofras. Aí é que eu morria. Deixa que me tenhas em mim com os momentos inesquecíveis que passámos…deixa eu partir e ser mais fácil…Não ver a tua dor…ficares com raiva de mim…talvez seja mais fácil para ti esqueceres-me’, pensou isto no último abraço… ‘Tenho que ir’ disse ele na sua voz meio arrastada e forte. Nove horas. O comboio preparava-se para partir. ‘Promete que dás notícias’- diz a rapariga intrigada, com raiva de amor, a chorar realmente… ‘Sempre que estiveres bem eu estou bem.’ diz o rapaz… olham-se num último olhar..ele sobe as escadas…ela segue-o.
Num último degrau…ele agarra-a e segreda-lhe ao ouvido… ‘Amo.-te para sempre’. A rapariga não teve tempo de retribuir a frase mais verdadeira. Chora, vê o comboio partir…era tarde. Nove e dois minutos. Continuava a ser tarde demais.

04 Junho, 2007
Daniela 11ºE Nº11

12 junho 2007

"À luz do sol, o intenso colorista"

11ºE e H
"Como destacam, vivas, certas cores,
Na vida externa cheia de alegrias
Horas, vozes, locais, fisionomias"
11º B

Como depois vimos em aula, Cesário Verde não escreveu só versos sombrios e preocupados. Também há muita luz e beleza nos seus poemas.
11º E e H
"As árvores despidas, sóbrias cores"

11º B
"Faz frio. Mas, depois de uns dias de aguaceiros,/Vibra uma imensa claridade crua."

Afinal, o desejo do poeta foi sempre de exigência e perfeição.


"Se eu não morresse nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!"
11º E e H

Arrisquei escolher, das fotografias feitas pelas três turmas, as que traduzem este lado do poeta. O 11º B, embora não tenha estado na Oficina da biblioteca, também realizou actividades semelhantes. Estou muito contente pelo vosso trabalho. Pensar que em menos de 10 minutos conseguiram olhar de modo tão atento o vosso/nosso real quotidiano, a nossa escola e sua envolvente, significa que a lição e o exemplo de Cesário Verde são muito estimulantes.

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Versos de Cesário Verde retirados dos poemas: "Cristalizações", "Num Bairro Moderno" e "O Sentimento dum Ocidental".
Edição utilizada: Livros Horizonte (1999).
Fotografias instantâneas (tipo poloroid): 11º B, 11º E e 11º H.
Contexto de realização das fotografias (30, no total, nem todas reproduzidas): Oficina de Poesia, Biblioteca da E.S.Henriques Nogueira (11ºs E e H); sala de aula(11ºB).

09 junho 2007

Cesário Verde (1855-1886)

"Lavo, refresco, limpo os meus sentidos,
E tangem-me, excitados, sacudidos,
O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o ofacto!"

Na Oficina de Poesia depois do exercício dos sentidos, pegámos em três máquinas poloroid e partimos por breves minutos à descoberta do nosso "real quotidiano". À maneira de Cesário Verde, procurámos captar o que nos rodeia, que é o que nos preocupa.

Depois escolhemos versos do poeta ou frases criadas por nós e juntámos às fotografias tiradas pelas duas turmas, numa exposição na Biblioteca. Aqui fica uma pequena mostra desse trabalho.

"A mim, o que me rodeia é o que me preocupa" disse Cesário Verde numa carta, acrescentando"Eu sou frio, pausado, calculista". São duas afirmações estranhas para um poeta, ou melhor, para a nossa ideia feita de poeta.

Todos os temas, todas as palavras ganham direito à poesia com Cesário Verde: ruas, becos, profissões rudes, pobreza; luminosas ou duras as imagens do real inspiram e, às vezes, incomodam o poeta.


A civilização a céu aberto (Carlos)

"Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos"

"Mas se vivemos os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas"



(continua)

04 junho 2007

Oficina da Poesia


A poesia é para cheirar? É. E também para ver e ouvir e sentir e saborear.


Como prometido, aqui fica o registo do trabalho das turmas 11º E e H na Oficina de Poesia, na Biblioteca da escola, onde reflectimos sobre os nossos conceitos e preconceitos acerca da poesia e da palavra poética e espreitámos o universo mental e artístico de Cesário Verde.


Ana Carolina, 11º H, na prova do olfacto.


Depois das várias provas dirigidas aos sentidos, conhecemos um pouco do mundo em que se moveu o poeta. Deixo aqui algumas imagens (da colecção de postais ilustrados de Lisboa) que vimos e comentámos.

Leiteiro nas ruas da capital
A zona portuária e comercial do Cais do Sodré/Praça da Ribeira
Vendedeiras de peixe

Nas descargas, na zona portuária do Tejo

Esta oficina foi traduzida para língua gestual pela tradutora que acompanha o 11º H, Dra. Teresa Vasconcelos.

A próxima edição será para criar em aula e dará conta dos trabalhos produzidos.

20 abril 2007

As Serras

A sineta repicou... E com um belo fumo claro o comboio desapareceu por trás das fragas altas." (capítulo VIII)



Rolávamos na vertente de uma serra, sobre penhascos que, desabavam até largos socalcos cultivados de vinhedo. Em baixo, numa esplanada, branquejava uma casa nobre, de opulento repouso, com a capelinha muito caiada entre um laranjal maduro.


Pelo rio, onde a água turva e tarda nem se quebrava contra as rochas, descia, com a vela cheia, um barco lento carregado de pipas. (...)
Jacinto acariciava os pêlos corredios do bigode:— 0 Douro, hem?... É interessante, tem grandeza. (cap. VIII)

Com que brilho e inspiração copiosa a compusera o Divino Artista que faz as serras, e que tanto as cuidou, e tão ricamente as dotou, neste seu Portugal bem -amado!
A grandeza igualava a graça. Para os vales, poderosamente cavados, desciam bandos de arvoredos, tão copados e redondos, de um verde tão moço, que eram como um musgo macio onde apetecia cair e rolar. (...) Em todo o torrão, de cada fenda, brotavam flores silvestres. Brancas rochas pelas encostas, alastravam a sólida nudez do seu ventre polido pelo vento e pelo sol.(...) O ar fino e puro entrava na alma, e na alma espalhava alegria e força.
Jacinto adiante, na sua égua ruça, murmurava: — Que beleza! E eu atrás, no burro de Sancho, murmurava: — Que beleza! (cap. VIII)

1. Relê com atenção as várias passagens referentes à descrição da paisagem, de que aqui deixo exemplos. Existem ligações para visitares sítios com boas imagens do Douro.

2. Escolhe as tuas passagens favoritas, indicando-as em "comentário".

3. Analisa a linguagem e os recursos que compõem as descrições, a exemplo do trabalho da aula, registando as respostas em "comentário".


03 abril 2007

das palavras às imagens

Leitura visual e plástica de passagens dos capítulos I e VI de

A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós


Daniela Félix,11º H. Técnica mista sobre tela.




Lisa, 11º H. Técnica mista sobre tela.
"bibliotecas abarrotadas, a estalar, com a papelada dos séculos (...) ruas, cortadas, por baixo e por cima, de fios de telégrafos, de fios de telefones, de canos de gases, de canos de fezes"
(A Cidade e as Serras, cap. I)


Catarina Cruz, 11º H. Desenho, carvão e lápis de cera sobre papel.
"fábricas fumegando com ânsia, inventando com ânsia; (...) fundas milhas de ruas (...) fios(...) uma vaga humanidade, fervilhando, a ofegar, na busca do pão" (A Cidade e as Serras, cap. I)


Inês Joaquim, 11º H. Pintura sobre tela.

"Tudo se fundiu numa nódoa parda que suja a Terra. (...) a sublime edificação dos Tempos não é mais que um silencioso monturo da espessura e da cor do pós final" (cap. VI)

Cláudia Franco, 11º H. Técnica mista sobre tela.


"Jacinto, por um impulso bem jacíntico, caminhou gulosamente para a borda do terraço, a contemplar Paris. Sob o céu cinzento, na planície cinzenta, a Cidade jazia, toda cinzenta (...). E na sua imobilidade e na sua mudez, algum rolo de fumo (...) era todo o vestígio visível da sua vida magnífica." (cap. VI)


Sara Correia, 11º H. Desenho, lápis sobre papel.


"armazéns (...) mercados (...) fábricas (...) ruas (...) carroças, velocípedes, calhambeques, parelhas de luxo." "Que criação augusta a da Cidade!" (cap. I)


Que estas imagens sirvam de motivação para novas escritas, novos trabalhos visuais.

Aqui deixo um dos exemplos de quem já aceitou o desafio da escrita.

As diferentes visões de uma cidade

Eu, enquanto “campónia”, vejo as cidades um tanto longe, mas não é por isso que não as visito ou as desgosto, pelo contrário, sou grande apologista das cidades, sejam elas grandes ou pequenas, pois o movimento de transportes, o movimento das próprias pessoas fascina-me.

A visão que tenho de uma cidade, enquanto estou no seu interior, é de um mar de prédios imenso, através dos quais descem enormes avenidas com uma quantidade de histórias e vivências, centros de lazer onde não só se põe à prova a nossa capacidade materialista como também a nossa cultura: falo de centros comercias, museus teatros, locais nos quais podemos não só conviver, como gastar dinheiro e aprender um pouco da nossa e de outras culturas.

Tendencialmente não falo dos problemas das cidades, pois as acho perfeitas, mas perante aquilo que li no livro “A Cidade e as Serras”, achei que deveria ver bem como é uma cidade. [...]

Nestas férias propus aos meus pais que me levassem a um local onde pudesse observar a cidade de Lisboa do seu alto, ao que eles me sugeriram um dos pontos mais altos da cidade, o Castelo de são Jorge. Parti de imediato para lá e a realidade com que me deparei não foi a que esperava.

Vi foi um amontoado prédios degradados, completamente abandonados e deixados de boa vontade aos sem abrigo, a zona de pesca cheia de redes pesqueiras há muito abandonadas pelos seus donos, vários contentores abandonados, que ao saírem dos portos não tiveram alguém que os levasse ou então ficaram na reforma.

Concluo assim que vou dar mais valor à serra onde moro e deixar que o sonho de uma cidade perfeita continue na minha cabeça.

Cristiana Pancadares, 11º E

Boas leituras! Bons motivos artísticos!

22 março 2007

Leitura visual da Cidade

Francisco S. , 11º H, 21 de março/2007
O Francisco fez esta leitura visual da passagem que se segue.
Por uma conclusão bem natural, a ideia de Civilização, para Jacinto, não se separava da imagem de Cidade, de uma enorme Cidade, com todos os seus vastos órgãos funcionando poderosamente. Nem este meu supercivilizado amigo compreendia que longe de armazéns servidos por três mil caixeiros; e de Mercados onde se despejam os vergéis e lezírias de trinta províncias; e de Bancos em que retine o ouro universal; e de Fábricas fumegando com ânsia, inventando com ânsia; e de Bibliotecas abarrotadas, a estalar, com a papelada dos séculos; e de fundas milhas de ruas, cortadas, por baixo e por cima, de fios de telégrafos, de fios de telefones, de canos de gases, de canos de fezes; e da fila atroante dos ónibus, tramas, carroças, velocípedes, calhambeques, parelhas de luxo; e de dois milhões de uma vaga humanidade, fervilhando, a ofegar, através da Policia, na busca dura do pão ou sob a ilusão do gozo — o homem do século XIX pudesse saborear, plenamente, a delícia de viver!


Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, cap. I (in http://figaro.fis.uc.pt/queiros/lista_obras.html)

Quem aceita continuar o desafio?

Cria outra imagem para este texto!

Cria outro texto para esta imagem!

Fotografa e descreve a cidade de hoje!

20 fevereiro 2007

Ler, entender, resumir



Resumir é, como vimos, uma actividade essencial à vida quotidiana e ao conhecimento do mundo.
Vamos, pois, treinar mais uma vez esta modalidade da escrita, recuperando alguns dos temas e textos que vos sugeri anteriormente.

1. Localizem nos cadernos e no Práticas os registos de apoio à planificação e redacção do Resumo.
2. Seleccionem no índice os "posts" correspondentes a um dos textos informativos/reflexivos (escravatura; exploração espacial; fome).
3. Leiam o texto, discutam-no e registem tópicos;
4. Planifiquem e redijam o resumo, com recurso ao dicionário, se necessário.
5. Releiam e, se for preciso, melhorem.
6. Abram o «comentários» e registem a última versão.